Estados alérgicos

Estados alérgicos

A alergia é uma resposta de hipersensibilidade em pessoas predispostas, desencadeada pela exposição a distintas substâncias do meio ambiente, ou alergênicos, e que provoca manifestações clinicamente evidentes

A alergia é uma condição muito frequente na população em geral e consiste em uma predisposição hereditária a produzir uma resposta excessiva de anticorpos do tipo IgE contra alergênicos ambientais, razão pela qual quem dela padece costuma apresentar uma ou mais doenças atópicas, como a rinite alérgica, a asma e a expressão cutânea da alergia (o eczema ou a dermatite atópica).

Essas afecções estão entre as causas mais comuns de doenças crônicas e sua incidência vem aumentando nos últimos anos. A rinite alérgica, a asma e a dermatite atópica figuram entre os 15 diagnósticos mais frequentes realizados durante uma consulta médica.

Quem sofre essas manifestações não somente se vê afetado pela sintomatologia, que em algumas ocasiões altera radicalmente a vida cotidiana, mas também está exposto a sofrer determinadas complicações, como as doenças infecciosas. Além disso, afecções como a asma, sem um tratamento adequado, podem ser motivo de quadros sérios que atentam contra a vida de quem delas padece.

O que é a alergia?

A alergia é definida como uma resposta de hipersensibilidade em pessoas predispostas, desencadeada pela exposição a distintas substâncias do meio ambiente, ou alergênicos, e que provoca manifestações clinicamente evidentes. Essa resposta é mediada pelos diferentes componentes do sistema imunológico.

O sistema imunológico é fundamental para a sobrevivência, já que atua como uma complexa defesa do organismo contra as substâncias presentes no ar, nos alimentos ingeridos e nos objetos tocados. Muitos desses alimentos podem atuar como alergênicos, substâncias capazes de provocar uma reação alérgica em uma pessoa suscetível. O pólen, os ácaros presentes no pó, o mofo, a caspa, os pelos dos animais e os excrementos das baratas figuram entre os alergênicos mais comuns.

Na maioria das pessoas, a exposição habitual a substâncias como os ácaros não produz uma resposta manifesta, mas, naquelas capazes de reagir de forma exacerbada frente ao contato com tais substâncias, veremos que se desenvolvem manifestações atópicas mediante cada contato. Em geral, esse processo começa em idades precoces. Diante de um primeiro contato com um determinado alergênico, em uma pessoa suscetível, desencadeia-se uma série de reações que levam à produção de anticorpos IgE (imunoglobulinas) contra o referido alergênico. A produção de IgE é um processo muito complexo, ocorrendo de maneira específica pela exposição a um alergênico em particular. Isso explica em parte por que algumas pessoas são alérgicas à caspa ou ao pelo dos animais e não a outros tipos de alergênicos.

Mediante uma segunda exposição aos alergênicos a que a pessoa é sensível, esses se unem à IgE específica, que ao mesmo tempo se acopla aos mastócitos (células inflamatórias localizadas na mucosa nasal, conjuntival, pulmonar e gastrointestinal). Assim, são liberadas substâncias químicas que mediam o processo inflamatório da alergia, como a histamina e os leucotrienos. Esses mediadores da inflamação são os responsáveis pelos sinais e sintomas da doença alérgica, que, de forma característica, começam a aparecer alguns minutos depois da exposição à substância desencadeante do fenômeno alérgico. Além disso, as substâncias químicas liberadas recrutam outras células inflamatórias para que se concentrem no local da inflamação, e isso provoca uma resposta inflamatória ainda maior. O resultado é uma exacerbação dos sintomas da alergia que costuma manifestar-se nas horas posteriores à exposição ao alergênico.

Como acabamos de ver, a alergia é um processo mediado por uma resposta alterada e exagerada do sistema imunológico frente a certas substâncias.

Diante da pergunta sobre a origem dessa alteração, a resposta não é simples, uma vez que os fatores envolvidos em sua gênese são múltiplos. Por um lado, o desenvolvimento das doenças alérgicas seria determinado por fatores genéticos, o que sugere a existência de uma predisposição familiar ou hereditária para sofrer a doença. Por outro lado, o risco de desenvolver uma alergia também parece estar associado a fatores ambientais, entre os quais encontramos determinados aspectos do estilo de vida, como a exposição a alergênicos (dentro e fora de casa), a dieta, a poluição ambiental e o estresse psicológico.

Por último, embora a base das diferentes manifestações atópicas seja a mesma, a gravidade da alergia varia de pessoa para pessoa, podendo manifestar-se como um processo menor ou como uma afecção grave, denominada anafilaxia, que representa uma emergência médica e requer um tratamento imperioso.

Como se manifesta?

Embora, como mencionamos, as diferentes manifestações alérgicas obedeçam a um mesmo transtorno imunológico, elas se apresentam por meio de diversos sinais e sintomas. Entre os quadros mais frequentes vale à pena mencionar a rinite alérgica e a asma, ambas manifestações da mucosa respiratória que se apresentam em diferentes níveis, a alergia a alimentos e picadas de insetos e a dermatite atópica. Essas manifestações vão se modificando ao longo da vida do indivíduo. Na primeira infância, é mais frequente encontrar quadros de alergia alimentar ou dermatite atópica, enquanto a asma e a rinite alérgica são quadros que aparecem geralmente a partir dos 3 anos de idade. Em adolescentes e adultos, entretanto, são mais frequentes os quadros de conjuntivite alérgica e rinite sazonal.

Entre os sintomas mais comuns, aparecem a secreção nasal (rinorreia), os espirros e a congestão nasal, todos sintomas da alergia das vias aéreas superiores; a dificuldade para respirar (dispneia) acompanhada de assobios ou chiados no peito, sintomas da alergia das vias aéreas inferiores; e a coceira, ou prurido, sintoma cardinal da alergia que afeta os olhos e a pele. Entre as manifestações que podem ser observadas em uma pessoa que apresenta atopia estão a inflamação e a vermelhidão da conjuntiva ocular, o engrossamento e o endurecimento (liquenificação) da pele, a inflamação da mucosa nasal, a dor à palpação dos seios paranasais e, nos casos graves de anafilaxia, a dificuldade para respirar e a diminuição da pressão arterial.

Tratamento da alergia

O ponto mais importante no tratamento é descobrir os alergênicos envolvidos na geração de uma resposta imunológica exagerada, já que evitar ou, quando não for possível, reduzir ao mínimo possível a exposição a esses alergênicos continuam sendo as principais estratégias para evitar os sintomas.

Embora as alergias sejam processos que não tenham cura, existe uma série de tratamentos disponíveis para aliviar os sintomas alérgicos. Entre estes tratamentos farmacológicos, encontramos agentes que modificam a resposta das células inflamatórias que intervêm no processo alérgico ou reduzem a emissão das substâncias químicas liberadas por essas células, responsáveis pelos sintomas da doença. Dentre os agentes modificadores das células inflamatórias estão os anti-histamínicos, que bloqueiam os receptores de histamina e, dessa forma, interferem na ação dessa substância, que tem um papel fundamental no desenvolvimento da alergia e de seus sintomas. Contudo, os agentes estabilizadores dos mastócitos bloqueiam a liberação de mediadores inflamatórios por parte dessas células. Os corticosteroides têm ação anti-inflamatória e podem ser administrados de forma intranasal, em aerossol ou por via oral. Os agentes modificadores dos leucotrienos e os anticorpos anti-IgE são outros tratamentos disponíveis que, em geral, são indicados nos casos refratários aos tratamentos-padrão.

A imunoterapia, por sua vez, também constitui uma opção de tratamento das alergias quando indicada de forma adequada. Consiste na administração sistêmica (parenteral) de uma vacina composta pela combinação de extratos de um alergênico específico. Tal administração é efetuada de forma reiterada para modificar os mecanismos de resposta alérgica (produzir um fenômeno de dessensibilização) do indivíduo aos alergênicos.

Medidas preventivas

Medidas preventivas da alergia respiratória

Como já mencionado, evitar os alergênicos ou, nos casos em que isso não é possível, reduzir a exposição ao mínimo possível são uma forma de evitar a indesejável sintomatologia alérgica. Em alguns casos, é possível identificar o alergênico responsável pela resposta inflamatória; nessa situação, as medidas serão direcionadas a evitar esse alergênico em particular. Contudo, existem algumas medidas gerais propostas para o controle ambiental dos alergênicos:
– Realizar uma limpeza e desinfecção profunda da casa, utilizando preferencialmente um aspirador para limpar os pisos.
– Utilizar um desumidificador para manter os ambientes secos.
– Utilizar travesseiros de fibra sintética.
– Colocar colchões e travesseiros em capas especiais de plástico.
– Lavar semanalmente lençóis, cobertores e fronhas de travesseiro, utilizando para isso água bem quente.
– Retirar da casa tapetes, já que são um local de acúmulo de pó. Da mesma forma, devem ser retirados dos quartos bichos de pelúcia, uma vez que podem atuar como depósitos de ácaros do pó da casa.
– Evitar a ingestão de alimentos que atuem como desencadeantes dos sintomas alergênicos.
– Conservar os alimentos em recipientes bem herméticos, lavar os pratos logo após utilizá-los e limpar bem a cozinha depois de cada refeição.
– Evitar a exposição à fumaça do cigarro, dentro e fora de casa. A fumaça do cigarro não é um alergênico, mas atua como um fator-gatilho para o aparecimento dos sintomas da alergia.