Como superar a incontinência

Como superar a incontinência

Com o passar das décadas, a possibilidade de se deparar com a incontinência urinária aumenta. As transformações da vida diária que essa condição pode produzir tornam indispensáveis um diagnóstico preciso e um tratamento adequado. Sem dúvidas, existe muita vida após a incontinência

Entende-se por incontinência urinária a perda involuntária de urina. Essa afecção é muito frequente, mas costuma ser escondida e, muitas vezes, não é consultada com o médico. Sua importância consiste nas consequências físicas e psicológicas, além dos altos custos que traz associados. Constitui uma condição fisicamente incômoda que acarreta distintos problemas. Em nível psicológico, é um estigma social que pode levar ao isolamento, à vergonha e à depressão.

Essa condição pode ser sofrida por até metade das mulheres, seja em algum momento da juventude e da meia-idade, seja associada à gravidez. Os homens também podem manifestar tal condição na meia-idade e idade avançada, quando se associa em geral a transtornos da próstata. Contudo, a incidência dessa condição obedece a numerosas causas e sua ocorrência aumenta com a idade, sendo encontrado algum grau de incontinência em um terço das mulheres acima de 60 anos e em 20% dos homens nessa mesma faixa etária.

Continência urinária

Para poder entender por que a incontinência urinária é originada, inicialmente é importante saber o que é necessário para que seja produzida uma continência normal.

A princípio, deve haver uma efetiva função do trato urinário inferior, que envolve os corretos armazenamento e esvaziamento da urina. O armazenamento normal da urina depende da existência de uma sensação apropriada de bexiga cheia, ausência de contrações involuntárias da bexiga, capacidade da bexiga de armazenar grandes volumes de urina e baixas pressões e um correto mecanismo de fechamento. Em contrapartida, o correto esvaziamento depende de uma bexiga com capacidade de contração, de que não haja nenhuma obstrução anatômica ao fluxo normal da urina e de coordenação dos componentes – bexiga e uretra – no momento do esvaziamento. Além disso, deve-se levar em conta que as funções do organismo, inclusive a micção (processo pelo qual a bexiga esvazia-se quando está cheia), são coordenadas pelo sistema nervoso central, razão pela qual é necessário o seu correto funcionamento para obtenção de uma continência normal.

Também são necessários outros fatores, como a mobilidade e capacidade de utilizar o banheiro e o manuseio da vestimenta, a função cognitiva para reconhecer a necessidade de ir ao banheiro e a ausência de barreiras ambientais (carência de sanitários ou cuidadores).

A micção é controlada pelo sistema nervoso central e requer um correto funcionamento desse para obtenção de uma continência normal.

Os diferentes tipos de incontinência

A incontinência urinária é classificada segundo as causas que a originam, as manifestações clínicas e os tratamentos e a forma de apresentação. Entende-se por incontinência de estresse o escape de urina, em geral poucas gotas, produzido por um aumento súbito da pressão localizada nos músculos inferiores do abdômen (tosse, risada ou exercício, por exemplo). Também ocorre usualmente quando os músculos pélvicos se debilitam por um parto ou alguma cirurgia. Não costuma ser acompanhada por outros sintomas, como aumento da frequência de micção diurna, urgência ou noctúria (necessidade de urinar em várias oportunidades durante a noite).

A incontinência de urgência ocorre quando a necessidade de urinar aparece subitamente, sem aviso prévio ou com um aviso de poucos segundos ou minutos antes. Não pode ser prevenida, e geralmente o conteúdo total da bexiga é perdido. Esse tipo, também chamado de bexiga hiperativa, pode precipitar-se por situações como lavar pratos, dar a volta na chave em uma porta, escutar água que corre ou ingerir água, café, chá ou álcool em excesso. É mais comum em idosos.

A incontinência de sobrefluxo consiste no gotejamento incontrolável de pequenas quantidades de urina produzido por uma bexiga demasiadamente cheia ou distendida. Nessa situação, a pressão dentro da bexiga é maior que a pressão de fechamento da uretra. Quem dela padece sente que não pode esvaziar sua bexiga por completo, podendo ter que se esforçar excessivamente para urinar. É mais habitual em homens e pode ser causada por um bloqueio do fluxo de urina devido ao aumento da próstata, a um tumor ou também a certos medicamentos.

A incontinência funcional origina-se quando existe um controle normal da urina, mas há dificuldade para chegar ao banheiro a tempo. Isso ocorre, em geral, quando há alguma afecção (doenças osteomusculares, articulares e neurológicas) que dificulta a movimentação de um lado para outro.
A incontinência mista envolve geralmente a presença de sintomas por esforço e de incontinência de urgência. Costuma haver perda de urina leve a moderada com as atividades físicas e, em outras ocasiões, simplesmente perda repentina.

Por que ocorre a incontinência urinária?

Para essa afecção, existe um amplo espectro de causas. Na incontinência por estresse, há pouca resistência à saída de urina, sendo geralmente produzida por uma hipermobilidade da uretra secundária a um suporte escasso pela estrutura que compõe o assoalho pélvico e, menos frequentemente, por uma condição denominada deficiência intrínseca do esfíncter uretral. Contudo, na incontinência de urgência, observa-se uma perda involuntária de urina por uma atividade aumentada do músculo da bexiga (músculo detrusor). Essa atividade anormal pode ser causada por uma doença própria do músculo (miopatia), dos nervos que o inervam (neuropatia) ou uma combinação de ambas. No caso da incontinência por sobrefluxo, esta é produzida pela distensão do músculo detrusor, que pode ser secundária à obstrução da saída da bexiga, à falta de tônus muscular ou a um comprometimento neurológico da bexiga. Essas condições podem ser secundárias, por exemplo, a alterações prostáticas no homem, como no aumento da glândula (hiperplasia prostática benigna). As causas neurológicas dessa afecção incluem a hérnia de disco em nível lombar, a neuropatia periférica e o comprometimento neuropático secundário à diabetes. Também pode ocorrer em consequência dos acidentes cerebrovasculares, da doença de Parkinson, dos tumores cerebrais e da esclerose múltipla. Nesses casos, a incontinência reflete o comprometimento, não da bexiga e das estruturas adjacentes, mas do sistema nervoso central, que é o encarregado de regular a micção. Como já mencionado, a incontinência funcional é causada por afecções que dificultam a mobilidade ou, ainda, a capacidade cognitiva, como os transtornos neurológicos e a demência, ou fatores psicológicos, como a depressão.

Como é realizado o diagnóstico?

A avaliação do indivíduo concentra-se no histórico, no exame físico e em alguns estudos complementares. Entre estes últimos, são úteis o exame de urina e a determinação do volume de urina residual. Em alguns pacientes, é produtiva a realização de exames de imagem, como o ultrassom, que permite determinar o volume da bexiga, a cistografia, que permite confirmar a incontinência de estresse, e a ressonância magnética, que mostra com bastante detalhe a anatomia do trato urinário inferior e as estruturas adjacentes. As avaliações ginecológica e urológica também podem contribuir com dados para o diagnóstico. Outros estudos a serem considerados são os urodinâmicos, realizados durante a micção.

Tratamento

O tratamento ideal para a incontinência urinária depende da avaliação individual e varia conforme a natureza do problema. Pode haver melhora dos sintomas e, em alguns casos, é possível a cura. Hoje existem opções cirúrgicas e não cirúrgicas para o tratamento dos diferentes tipos de incontinência.

Os casos de incontinência de urgência, de estresse e mista podem ser tratados em algumas ocasiões com mudanças no comportamento, tendo sido comprovada a efetividade em diversos estudos clínicos. Dentre as intervenções estão: a educação para urinar em intervalos regulares (a cada duas ou três horas) e assim manter a bexiga relativamente vazia; modificações na ingestão de líquidos (beber quantidades suficientes de líquidos, 6 a 8 copos ao dia, para impedir que a urina concentre-se demasiadamente, já que isso poderia irritar a bexiga); técnicas de treinamento vesical e exercícios dos músculos do assoalho pélvico. Outras técnicas utilizadas sobre os músculos pélvicos são a biorretroalimentação (por meio de um sensor, o paciente pode saber quais músculos pélvicos estão trabalhando), o uso de pesos vaginais e a estimulação elétrica. Deve-se evitar tomar fármacos que afetam o funcionamento da bexiga, e caso já os esteja recebendo, e se for possível, suspendê-los.

Entre os tratamentos farmacológicos, especialmente na incontinência de urgência, são utilizados agentes anticolinérgicos, antiespasmódicos e antidepressivos tricíclicos. Em algumas mulheres com incontinência provocada por estresse, é possível aliviar o problema ao aplicar um creme vaginal que contenha estrogênios ou ao tomar comprimidos, uma vez que ajudam a controlar o esfíncter.

A incontinência de sobrefluxo pode ser tratada com a utilização de cateteres (sonda para esvaziar a bexiga) intermitentes ou crônicos ou, ainda, com a remoção cirúrgica da obstrução. A cirurgia também é útil em alguns casos produzidos por estresse e de urgência.

Para os casos em que não se consegue a continência por completo com os tratamentos mencionados, conta-se com roupa interna absorvente desenvolvida especialmente para incontinência e que protege a pele e permite que as pessoas se sintam secas e confortáveis, favorecendo uma vida social mais ativa.

Imagem: Freepik