Entenda a úlcera péptica

Entenda a úlcera péptica

A doença ulcerosa péptica é um problema do trato gastrointestinal caracterizado pelo dano à mucosa gastroduodenal devido a vários fatores, entre os quais se destacam a secreção ácida estomacal e a infecção pela bactéria H. pylori. Seu tratamento adequado exige a correta interpretação da sintomatologia que costuma acompanhá-la

A doença ulcerosa péptica é uma entidade muito frequente que afeta as pessoas de meia idade e gera um impacto importante sobre a produtividade e qualidade de vida daqueles que sofrem dela. Trata-se de uma doença na qual aparecem lesões (erosões e úlceras) na mucosa que recobre o estômago, o duodeno e, em menor medida, o esôfago. A maioria dos pesquisadores concorda em aceitar que as úlceras do estômago e do duodeno formam um grupo heterogêneo de alterações que obedecem a uma origem multifatorial entre os quais se destacam a predisposição genética (antecedentes familiares), a agressão do ácido gástrico e a infecção pela bactéria H. pylori.

A demonstração da elevada frequência da doença ulcerosa entre os membros de algumas famílias especialmente castigadas por esta moléstia é um indicador que estimula a suspeita de certa predisposição transmitida entre os indivíduos de uma mesma linha familiar.

Entre os fatores ambientais são descritos o hábito de fumar, o consumo de anti-inflamatórios não esteroides (AINE) ou o estresse. Estas eventualidades incrementam em cinco vezes em comparação à população em geral o risco de sofrer úlcera gástrica. As estatísticas revelam que os indivíduos que ingerem AINE desenvolvem úlcera gástrica em 8-17% dos casos. A úlcera duodenal desenvolve-se em 1-8% deles.

H. pylori é uma pequena bactéria espiralada cujo hábitat natural é a camada de muco gástrico humano. Ao interagir com o estômago, provoca uma infecção muito sutil que lhe permite uma residência adequada que se estende por décadas. Esta bactéria une-se às células epiteliais da mucosa e enfraquece o revestimento mucoso que protege o estômago e o duodeno, permitindo que o ácido afete a superfície sensível situada abaixo do referido revestimento. Consequentemente à ação do ácido estomacal e à atividade da bactéria, aparece a inflamação da mucosa (gastrite) e, persistindo o processo ao longo do tempo, pode ocorrer o desenvolvimento de úlceras.

A úlcera duodenal

Apresenta-se frequentemente em pessoas que sofrem situações de estresse crônico, com alto grau de frustração. A localização da úlcera duodenal tem predileção especial pela primeira porção do órgão, ainda que possa aparecer em outros territórios do duodeno. As úlceras duodenais geralmente são menores que as úlceras gástricas e menos profundas.
O rápido esvaziamento do conteúdo gástrico no duodeno é um dos mecanismos implicados no surgimento das lesões.

A úlcera gástrica

Esta úlcera associa-se ao dobro de frequência a pacientes fumantes quando em comparação àqueles que não desenvolvem este hábito. Este fato é particularmente mais frequente nos indivíduos do sexo feminino. O cigarro altera os mecanismos de defesa da mucosa, e a nicotina produz pequenas lesões na mucosa gástrica. Assim, a soma dos riscos de fumar e consumir AINE produz um índice de 80% de predisposição a sofrer úlcera gástrica.
A maioria das úlceras estabelecidas sobre o estômago situa-se na região do antro gástrico; em geral, são lesões únicas.

Complicações da doença úlcera péptica

A hemorragia digestiva é uma complicação comum; aparece, sobretudo, em pessoas idosas e pode manifestar-se por sangramento alto (hematêmese) ou baixo (melena). A magnitude e a velocidade do sangramento são fatores importantes nas consequências que pode ter esta complicação sobre a saúde do doente. Entre outras complicações da doença ulcerosa, a perfuração é uma entidade que persiste apesar dos avanços farmacológicos no tratamento. Sua incidência sobe a 10% da totalidade dos casos de úlcera informados.

Como a doença ulcerosa péptica é diagnosticada?

O diagnóstico da doença ulcerosa péptica baseia-se na suspeita clínica diante da presença de sintomas característicos e na realização de estudos específicos, como a endoscopia digestiva, que permitem a visualização das lesões de forma direta.

Entre as manifestações das úlceras gastroduodenais está a dor ou ardor na região do epigástrio. Esta dor costuma acalmar-se com a ingestão de alimentos e, em algumas ocasiões, pode despertar o paciente durante o sono. Outras manifestações são os transtornos da digestão (dispepsia), as náuseas, os vômitos, a perda de apetite e a intolerância a alimentos gordurosos.

A identificação de sinais ou sintomas de alarme pode despertar a suspeita de presença de úlceras complicadas: anemia, hematêmese ou melena sugerem sangramento; vômito aponta obstrução; dor abdominal difusa com reação peritoneal indica perfuração etc.

Existem exames que permitem a identificação da presença de infecção por H. pylori e que costumam ser realizados em pessoas jovens. A endoscopia digestiva alta (esofagogastroduodenoscopia) é o exame mais sensível para o diagnóstico definitivo da doença ulcerosa.

Tratamento

A cicatrização das úlceras da mucosa gastroduodenal pode ser obtida mediante a administração de diversos medicamentos, divididos em distintos grupos diferenciados por seu mecanismo de ação e sua eficácia.

Atualmente, os fármacos inibidores da bomba de prótons e os medicamentos antagonistas dos receptores tipo 2 da histamina são as prescrições mais frequentes. O tratamento ideal da úlcera busca sua epitelização e persegue a erradicação do Helicobacter pylori. Somente por meio deste objetivo alcança-se a cura definitiva da doença ulcerosa; isto é, a profilaxia de novos episódios de recidiva ulcerosa. Apenas a supressão da colonização do germe evita a necessidade de um tratamento antiácido de manutenção.