Transtornos funcionais do intestino: constipação
Esta condição é particularmente prevalente em crianças, mulheres e idosos. Na maioria dos casos, é o resultado de transtornos da função do cólon ou reto e requer modificações no estilo de vida e tratamento adequado
A evacuação normal do intestino relaciona-se, por um lado, com a integridade das estruturas que intervêm no trânsito das fezes para o exterior e, por outro lado, com a qualidade do consumo alimentar. O cólon (intestino grosso) é responsável por reabsorver a água do conteúdo intestinal oriundo do intestino delgado. Um mau desempenho dessa função leva a alterações na consistência das fezes. Caso resulte em uma diminuição na absorção de água, as fezes estarão altamente hidratadas e haverá diarreia; se, pelo contrário, houver um excesso de reabsorção de água, as fezes serão secas e duras, dificultando o trânsito e a saída para o exterior, fatos que caracterizam a constipação.
A constipação não é uma doença, mas a manifestação de alguma alteração no organismo. Atualmente, para estabelecer se uma pessoa sofre de constipação, as seguintes circunstâncias são levadas em conta:
• Evacuação das fezes com uma frequência inferior a três vezes por semana. A frequência normal das evacuações das fezes varia de mais de três vezes por semana a três vezes por dia, dependendo de cada indivíduo.
• Fezes muito duras.
• Sensação de evacuação incompleta.
• Necessidade de fazer um esforço intenso ou exagerado para evacuar o intestino.
• Falta de evacuação espontânea, tendo que recorrer a enemas ou laxantes.
Tipos de constipação
Dependendo do estado funcional do intestino e do reflexo defecatório, diferentes formas ou tipos de constipação são descritos:
• Constipação de trânsito normal. Esta forma de constipação é a mais comum. A frequência das evacuações é normal (3 ou mais vezes por semana). As fezes têm uma consistência mais sólida. Também pode haver dificuldade no momento da defecação. Aqueles que sofrem com isso podem apresentar inchaço, dor e desconforto abdominal.
• Constipação de trânsito lento. Esta condição ocorre com maior frequência em mulheres jovens que realizam evacuação uma vez por semana ou menos. Aqueles que sofrem desse tipo de constipação têm um trânsito intestinal lento. Pode estar associado a um baixo desejo de defecar, inchaço, dor e desconforto abdominal.
• Distúrbios defecatórios. Hemorroidas, fissuras anais ou a passagem de grandes volumes de fezes duras podem causar dor ao defecar. Isso pode fazer com que a pessoa tente impedir a dor evitando a defecação, o que pode causar constipação.
Contudo, existem várias condições que podem alterar o funcionamento dos músculos utilizados durante a defecação. Essas alterações também causam constipação.
Quais podem ser as causas da constipação?
As causas responsáveis pela constipação são muitas vezes desconhecidas para aqueles que sofrem com isso. Em muitos casos, a desaceleração na evacuação das fezes ocorre em razão de uma doença orgânica localizada no próprio intestino ou em outro local afastado dele; em outros casos, pelo contrário, pode estar associada a problemas neurológicos, psicológicos ou socioculturais.
Entre as principais causas da constipação se destacam:
• Uma alimentação pobre em fibras vegetais e com baixo consumo diário de água.
• Mudanças no ritmo de vida.
• Doenças metabólicas, como hipotireoidismo e diabetes.
• Alterações na morfologia intestinal, como dolicomegacólon (intestino grosso mais longo e largo do que o normal).
• Motilidade intestinal atrasada ou lenta.
• Obstrução do fluxo das fezes devido a doenças do ânus.
• Colón irritável.
• Pólipos e tumores intestinais.
Quando não há causa que possa ser demonstrada, a constipação é denominada idiopática ou de causa desconhecida.
Sintomas associados a constipação
Além dos sintomas locais, como dores leves ou difusas localizadas no abdome ou na pelve, as dores de cólicas intestinais às vezes aparecem caracterizadas por seu início repentino e desaparecimento em poucos segundos. Essas cólicas ocorrem em geral devido aos movimentos de luta que o intestino faz para tentar evacuar seu conteúdo. A constipação também pode estar associada a dores de cabeça, nervosismo, insônia, palpitações, devido, na maioria dos casos, ao transtorno psicológico causado pelo desconforto intestinal.
A ideia de que a falta de evacuação leva à absorção de substâncias tóxicas que normalmente não seriam absorvidas deve ser banida da crença popular. O cólon não tem capacidade de absorver alimentos, mesmo que permaneçam estagnados por longos períodos. A superinfecção bacteriana pode ocorrer em locais irritados pela persistência das fezes no interior. Este último fato é extremamente raro em pacientes que sofrem de constipação habitual.
Como a constipação é tratada?
A terapia da prisão de ventre é um problema antigo: uma vez que o tipo de prisão de ventre foi estabelecido, uma investigação completa dos hábitos alimentares deve ser realizada antes de tentar qualquer medida farmacológica. O mais aconselhável seria seguir certas regras de higiene e dietéticas para começar e evitar, acima de tudo, o uso de purgantes ou laxantes sem consultar o médico responsável pelo tratamento. Muitos dos purgantes em uso (concha sagrada, ruibarbo, jalapa, óleo de rícino, fenolftaleína) irritam a mucosa intestinal para estimular sua contração e o resultado final é muitas vezes uma prisão de ventre acompanhada de dor, intolerância alimentar e diminuição da absorção de alimentos, manifestações próprias da enterite.
Ao iniciar um tratamento para a prisão de ventre, deve-se levar em consideração que o intestino não deve ser necessariamente evacuado todos os dias, mas o importante é que cada pessoa adquira um ritmo de evacuação próprio; duas ou três evacuações semanais são suficientes para se manter livre de desconforto.
Diante de uma pessoa com constipação, em primeiro lugar, deve-se investigar a causa que a origina, já que, tendo isso como base, o médico indicará o tratamento mais apropriado.
Existem causas de constipação que exigem tratamentos muito específicos e, em alguns casos, cirurgias. No entanto, a maioria das pessoas melhora com medidas simples baseadas em mudanças de hábitos. Entre essas mudanças é aconselhável:
• Ingerir grande quantidade de líquidos, pelo menos 2 litros por dia, principalmente água e sucos de fruta.
• Alimentar-se de forma equilibrada, com uma dieta rica em fibras vegetais.
• Realizar exercícios físicos regularmente.
• Não postergar a evacuação do intestino no momento em que se manifesta o desejo de defecar.
• Evitar a automedicação com laxantes, porque, às vezes, eles produzem efeitos adversos indesejados, como diarreia, dor abdominal ou mais constipação.
• Evitar alimentos ou infusões que predispõem à constipação, tais como, chá preto, arroz branco e queijos.
Essas medidas simples ajudarão a prevenir ou melhorar a constipação na maioria dos casos.
O médico é quem indicará o melhor tratamento de acordo com a causa que levou à constipação e de acordo com o seu grau.
Papel dos probióticos no tratamento da constipação crônica
Diferentes estudos têm mostrado que a constipação crônica está associada às alterações na microbiota intestinal, ou seja, nas bactérias que normalmente constituem o ambiente microbiano normal do intestino. Observou-se que a desaceleração e a estagnação da matéria fecal no cólon em pessoas constipadas modificam sua composição bacteriana. Os dados de vários estudos mostram que pessoas com constipação crônica têm menos quantidade das espécies de Bifidobacterium e Lactobacillus e aumento de Enterobacteriaceae.
Esse ambiente disbiótico da constipação, no qual as bifidobactérias são o grupo mais afetado, tem levado ao uso terapêutico de agentes probióticos no tratamento desta condição.
Esses compostos foram definidos em 2001 pela Organização Mundial da Saúde e pela Food and Agriculture Organization das Nações Unidas como microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro.
No caso da constipação crônica, tanto em adultos quanto em crianças, a suplementação com probióticos pode afetar o ecossistema intestinal através de diferentes mecanismos.
Demostrou-se que as bifidobactérias promovem a motilidade intestinal nos modelos animais. Os probióticos que contém essa espécie bacteriana permitem repovoar, pelo menos parcialmente, a população de bifidobactérias, recuperando assim a sua importante atividade metabólica intestinal.
Em pessoas constipadas, os probióticos são benéficos para melhorar a motilidade intestinal, assim como também impactam os mecanismos imunológicos da mucosa colônica, diminuindo a inflamação local.