Sinusite e faringite: duas doenças típicas de inverno

Sinusite e faringite: duas doenças típicas de inverno

Estas infecções, muito frequentes na época de inverno, geralmente se comportam de forma benigna, mas geram um grande desconforto. Um diagnóstico e tratamento adequado evitam possíveis complicações maiores

SINUSITE
A sinusite é um processo inflamatório que compromete os seios paranasais, que são cavidades ósseas encontradas nos ossos do crânio. No adulto, há a presença de seios maxilares, etmoidais, frontais e esfenoidais. O trato de saída dos seios cai na cavidade nasal, onde a secreção produzida nos seios é derramada. Os seios maxilares estão perto de estruturas, tais como dentes, e os seios etmoidais e frontais, estão perto dos olhos. Isto explica algumas das manifestações apresentadas em pessoas com esta condição. Estes sintomas podem durar alguns dias ou semanas. Desta forma, de acordo com o tempo de evolução, é possível classificá-la em aguda e crônica. Quando se trata de um processo agudo, a sinusite geralmente é considerada um evento secundário a uma infecção viral. Embora a função dos seios paranasais não seja exatamente conhecida, acredita-se que contribuam na ressonância da voz, a umidificação e o aquecimento do ar inspirado e que agem como um lugar de absorção de energia no caso de um traumatismo, protegendo o cérebro.

Como esta condição ocorre?

Os seios paranasais são revestidos pelo epitélio respiratório, que contém células do sistema imunológico, células basais, células globosas que produzem muco para proteger e lubrificar a superfície da cavidade e células colunares com cílios. Estas últimas são compostas por pequenas extensões na parte superior das células, eles são móveis e capazes de deslocar o muco e outras substâncias produzidas pelo epitélio a uma velocidade de 3 a 25 mm/min para que o muco não acumule na cavidade sinusal; estas cavidades são estéreis, ou seja, são livres de micro-organismos.

Para ocorrer uma sinusite geralmente existem três fatores envolvidos: o estreitamento do orifício de saída do seio, uma disfunção dos cílios do epitélio respiratório e a presença de secreções viscosas. Há fatores que predispõem à obstrução do orifício de saída. Eles são: infecção viral das vias aéreas altas, inflamação alérgica, fibrose cística, doenças imunes, tabagismo, desvio de septo nasal, pólipos nasais, corpos estranhos, tumores, traumatismo facial, natação, mergulho, abuso de descongestionantes nasais e intubação nasal.

Quando ocorre a obstrução do orifício de saída, há um aumento da pressão dentro da cavidade. Na medida em que o oxigeno é consumido neste espaço fechado, a pressão torna-se negativa, levando à introdução de bactérias do nariz durante espirros ou ao assoar o nariz, em um ambiente onde essas bactérias podem se reproduzir. A secreção continua e, na presença da obstrução, vai se acumulando dentro da cavidade. A disfunção dos cílios reduz a limpeza do material dentro da cavidade, aumentando assim a probabilidade de infecção. Quando o material que reveste os cílios é alterado, ou seja, torna-se mais viscoso quando ocorre na fibrose cística ou nas alergias, altera também a função dos cílios. Desta forma, um ambiente propício é criado para a superinfecção por micro-organismos, sua multiplicação e o aparecimento de sintomas por esse processo infeccioso. As bactérias que causam sinusite com maior frequência incluem: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, anaeróbios, outras espécies de estreptococos, Moraxella catarrhalis e Staphylococcus aureus. Os vírus que causam este tipo de infecções com maior frequência são: adenovírus, parainfluenza e rinovírus. Os fungos também podem ser os causadores da sinusite, especialmente em pacientes com algum fator de predisposição, como pacientes com diabetes, algum tipo de imunocomprometimento, pacientes com câncer ou que usam corticoides.

A sinusite crônica é conhecida pela persistência de sintomas e sinais de inflamação nos seios que persistem por doze semanas ou mais. Embora possam ser encontradas as mesmas bactérias da sinusite aguda, não se sabe qual é realmente o papel dos micro-organismos nessa condição.

Como uma sinusite se manifesta?

Os sintomas da sinusite viral e bacteriana são semelhantes. Na sinusite viral, os sintomas duram aproximadamente cinco a dez dias, geralmente começam com dor de garganta, dor de cabeça e dores musculares. A febre geralmente aparece nas primeiras 48 horas, junto com a secreção nasal e a congestão. A secreção nasal inicialmente é aquosa e, em seguida, torna-se mucosa e espessa.
Na sinusite bacteriana, há a presença inicial de secreção nasal, tosse ou ambos e geralmente duram mais de 10 dias sem melhoria. No geral, há a presença de inchaço ao redor da órbita, mau hálito, febrícula, secreção nasal – inicialmente mucosa e, em seguida, espessa e purulenta. Também pode apresentar um quadro febril com secreção nasal purulenta durante três ou quatro dias e desconforto geral.

Outra forma de apresentação é caracterizada pela melhoria dos sintomas dentro dos primeiros dias e, em seguida, a deterioração com a presença de febre, tosse, congestão e secreção nasal. Na sinusite crônica, os sintomas duram pelo menos 12 semanas. É caracterizada pela secreção purulenta tanto pela parte anterior quanto pela parte posterior das fossas nasais, por obstrução nasal, diminuição do olfato e dor no rosto ou na pressão da área do seio comprometido.

Diagnóstico da infecção nos seios paranasais

O diagnóstico de sinusite deve ser realizado de acordo com a duração, o tipo e a gravidade dos sintomas. Embora nenhum seja totalmente específico, os achados mais relevantes neste tipo de infecção são: a secreção nasal purulenta, tanto descrita pela pessoa doente quanto a observada em exame físico, obstrução nasal, dor facial e sensação de pressão no rosto. O maior desafio é distinguir a sinusite bacteriana, a qual pode se beneficiar do uso de antibióticos, da sinusite viral. Se os sintomas persistirem ou piorarem por mais de dez dias ou se forem graves nos primeiros dias da doença, deve-se suspeitar que a origem seja bacteriana. Em crianças, a tosse persistente, especialmente durante o dia, pode ser um sinal de infecção bacteriana nos seios paranasais.

Tratamento da sinusite

O tratamento desta condição é voltado para a melhoria dos sintomas. A sinusite viral melhora sem tratamento após sete a dez dias. De qualquer forma, para o tratamento dos sintomas, é possível usar descongestionantes tópicos, tais como oximetazolina (não é recomendado usar por mais de três dias), compressas mornas, corticoides intranasais, tais como mometasona, e fármacos mucolíticos. Recomendam-se antibióticos na evidência de uma infecção de origem bacteriana. É necessário ingerir muito líquido e, para amolecer as secreções, recomenda-se vapor ou nebulizações.

Na presença de febre alta, sintomas visuais, vômitos, alterações no estado mental ou inchaço ao redor dos olhos, é necessário realizar uma consulta urgente, uma vez que é possível que este tipo de infecção se espalhe para estruturas vizinhas, causando um quadro grave.

FARINGITE

A faringite é um quadro frequente definido como uma infecção ou irritação da faringe ou garganta. É geralmente apresentada como um quadro de dor de garganta, febre e inflamação da faringe, com vermelhidão, inchaço e lesões, tais como, às vezes, vesículas, úlceras ou presença de secreções (exsudatos). Na maioria dos casos, é secundária a uma infecção viral localizada, embora também possa ser de origem bacteriana ou consequência de uma doença sistêmica. A maioria dos casos ocorre entre 5 e 24 anos de idade, sendo um motivo frequente para consulta ao médico, especialmente nos meses mais frios em que as infecções respiratórias por vírus predominam.

Agentes causadores de faringite

Os vírus são os causadores de 25 a 45% dos casos. Os vírus mais frequentes são: rinovírus, coronavírus, adenovírus, herpes simples, parainfluenza, coxsackie, Epstein-Barr, citomegalovírus e influenza. Quando a faringite é secundária a uma infecção bacteriana, o germe envolvido com maior frequência é o Streptococcus pyogenes de grupo A. É responsável por 10 a 15% dos casos de faringite em adultos e por 15 a 30% dos casos em crianças. O quadro faríngeo por esta bactéria é preocupante devido a sua associação com a febre reumática. Outras bactérias que podem produzir faringite são: Streptococcus do grupo C e G, Fusobacterium necrophorum, Arcanobacterium haemolyticum (anteriormente chamado Corynebacterium haemolyticum), Corynebacterium diphtheriae, gonococo, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae. As bactérias ou os vírus responsáveis invadem a mucosa faríngea, causando uma resposta inflamatória local, responsável pelos sintomas. Alguns vírus, tais como rinovírus ou corononavírus, podem causar irritação na mucosa faríngea secundária às secreções nasais. No caso das infecções por Streptococcus, geralmente há invasão dos tecidos com liberação de toxinas e enzimas chamadas proteases que causam danos locais.

Algumas proteínas desta bactéria são semelhantes às próprias proteínas do coração, portanto, o sistema imunológico em resposta a esta bactéria pode causar danos, especialmente na camada muscular do coração, chamada miocárdio, desencadeando a febre reumática, que é também é caracterizada por danos nas válvulas cardíacas. Da mesma forma, a resposta imune contra esta bactéria pode desencadear dano no próprio rim, um quadro denominado glomerulonefrite.

Manifestações clínicas da faringite

Esta condição se manifesta com febre, que pode estar ausente ou ser uma febrícula no caso da faringite viral, dor de garganta que muitas vezes pode até mesmo comprometer a ingestão adequada de líquidos e causar desidratação; conjuntivite no caso de infecção por adenovírus; secreção nasal, principalmente quando a causa é viral; exsudato faríngeo, que está presente tanto nas faringites bacterianas quando nas virais. Também pode haver lesões de tipo vesicular na boca.
As linfadenopatias ou gânglios linfáticos de tamanho grande, especialmente na parte anterior do pescoço são observados com maior frequência na infecção estreptocócica. As crianças podem apresentar náuseas, vômitos, dor abdominal e até mesmo diarreia. Esta última é mais frequente quando a causa é viral, tal como lesões na pele e dor muscular.

Como a infecção faríngea evolui?

No geral, trata-se de um quadro benigno que não apresenta complicações, portanto, o tratamento é normalmente ambulatório, porém, em alguns casos, a infecção pode ser generalizada dando sinais de toxicidade ou espelhar-se aos tecidos adjacentes produzindo quadros como epiglotite, abscessos orofaríngeos, otite media, sinusite ou mastoidite.

Outras complicações a serem consideradas são: a febre reumática, condição que compromete o coração e que pode deixar sequelas importantes, a glomerulonefrite aguda, que compromete os rins e a artrite reativa que afeta as articulações produzindo sua inflamação. A febre reumática ocorre geralmente após duas a quatro semanas do episódio de faringite e pode ser evitada pelo uso de antibióticos dentro de nove dias do início do quadro de faringite. A glomerulonefrite, por outro lado, não pode ser evitada com o uso de antibióticos e aparece no décimo dia da infecção faríngea.

Diagnóstico

Um grande desafio para o médico, assim como no caso das sinusites, é distinguir se a causa é viral ou bacteriana, já que o tratamento varia de um caso para outro. Em termos gerais, a faringite bacteriana é mais comum em crianças entre 4 e 7 anos e geralmente começa abruptamente, enquanto que a faringite viral é evidente após vários dias de tosse e secreção nasal. Se houver o histórico de contato com uma pessoa que contraiu uma infecção por Streptococcus, e se houver dor de cabeça e ausência de tosse, a causa também deve ser inicialmente considerada como bacteriana.

Os critérios propostos para o diagnóstico da faringite por Streptococcus pyogenes incluem: febre, presença de gânglios linfáticos inflamados no nível da parte anterior do pescoço, exsudatos faríngeos e ausência de tosse. Na presença dos quatro critérios, a probabilidade de que a faringite seja bacteriana é de 50%. Estes critérios são úteis para identificar quais pacientes realizarão os métodos diagnósticos de confirmação. Estes consistem de uma cultura ou em métodos rápidos que detectam bactérias em material coletado da garganta do paciente.

Como o tratamento de uma faringite é realizado?

A hidratação deve ser avaliada, pois às vezes está comprometida pela dor de garganta. Os analgésicos são utilizados para a dor e fármacos são utilizados para baixar a febre, se estiver presente. Deve-se prescrever antibióticos se houver a confirmação de causa bacteriana. Esta confirmação é feita por esfregaço ou detecção por métodos rápidos ou por cultura de bactérias. Se não houver suspeita de sintomas de sinusite bacteriana, não é necessário realizar o esfregaço nem usar antibióticos. Os antibióticos servem para diminuir o tempo dos sintomas, mas principalmente para evitar a complicação mais temida das infecções faríngeas por Streptococcus, que é a febre reumática.