Setembro Amarelo e a importância de falar sobre saúde mental

Setembro Amarelo e a importância de falar sobre saúde mental

A campanha Setembro Amarelo é dedicada à prevenção e conscientização contra o suicídio. E falar sobre suicídio é falar sobre depressão, ansiedade e tantos outros transtornos de saúde mental que acometem milhões de pessoas por todo o mundo

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, os transtornos mentais comuns incidem em 30% dos trabalhadores e são as principais causa de incapacidade. Além disso, são a terceira causa de auxílio-doença no Brasil. O estudo aponta que atualmente mais de 300 milhões de pessoas sofrem com depressão e mais de 260 milhões vivem com transtornos de ansiedade no mundo.

A pandemia nos trouxe diversas circunstâncias estressantes, reforçando problemas já existentes de saúde mental a partir de situações como: desemprego, fome, medo, morte, insegurança, agressões às mulheres, mitos e fakes news. Como consequência desse processo, o sono dos indivíduos foi prejudicado e quando essas consequências são persistentes, ocasionam danos no Sistema Nervoso e podem gerar fadiga, diminuição do nível de alerta e da velocidade do pensamento, alterações de humor, irritabilidade, dificuldades nos relacionamentos familiares, restrição da participação em atividades sociais, dificuldade de percepção, concentração, memória, tomada de decisão, todas funções tão importantes no dia a dia pessoal e profissional e que elevam a tendência à ansiedade e depressão.

A depressão sempre foi considerada uma psicopatologia específica da fase adulta. Somente a partir de 1960 sua ocorrência foi relacionada à infância e adolescência. No que tange à etiologia da depressão há muitas variáveis sociais, psicológicas e biológicas consideradas fatores de risco, tais como: prévio histórico de depressão de um dos pais, viver em famílias consideradas disfuncionais, baixa educação dos pais, eventos estressantes frequentes, pouco suporte social, problemas na escola e de saúde, baixo desempenho acadêmico, ser do sexo feminino, baixo repertório de comportamentos e de habilidades sociais, características individuais do sujeito (gênero, temperamento, personalidade e cognição), fatores familiares (estilo parental, capacidade ou não de estabelecer vínculo, situações familiares adequadas ou estressantes e ausência ou presença de psicopatologias na família), atributos sociais (condições do ambiente, local da moradia, nutrição, violência urbana, acesso à saúde e ao saneamento básico).

Entre os principais sintomas da depressão podem ser destacados: a tristeza, isolamento, falta de confiança, visões negativas, perda de interesse pelas atividades sociais, alterações no apetite e sono, podendo evoluir para quadros de suicídio.

Muitas vezes o estresse gerado por sobrecargas diversas pode gerar sentimentos de angústia, baixa autoestima, impotência, que associados a um perfil de elevada cobrança pessoal, pode levar a uma depressão.

Durante a pandemia uma das estratégias criadas para melhorar os agravos da depressão, foram os espaços de comunicação virtual, como os chats de vídeo que podem auxiliar o controle dos níveis de depressão. No entanto, essas mudanças causam um grau de estresse elevado, uma vez que, a dependência aliada a uma maior probabilidade de não possuírem acesso à internet, falta de conhecimento, de habilidade e de confiança para usar esses meios tecnológicos, tornam-se barreiras que dificultam a integração dos idosos nesses espaços virtuais.

Na atualidade as redes sociais podem também ser consideradas propulsoras da depressão e do suicídio. Muitas mensagens propagadas nas redes sociais podem potencializar os sentimentos depressivos e os comportamentos suicidas.

Mas, afinal, o que leva uma pessoa a cometer suicídio?

O suicídio é o ato mais individual do ser humano. As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio que é ativada, ao longo da vida, por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo. Os números apontam um grande culpado. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão.

O suicídio pode constituir uma reação de inadaptação a uma mudança ou um ato de vingança que sublinha o rancor. Os cinco mil suicídios registrados quando da tomada de Berlim, no fim da Segunda Guerra Mundial, são exemplos disso. O próprio Adolf Hitler, um psicopata sem qualquer capacidade de remorso ou compaixão, suicidou-se. Independentemente das causas, o suicídio resulta sempre da consolidação de emoções negativas e de estresse. Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar em uma resposta negativa e conduzir ao suicídio. O que encontramos nos suicidas é a associação de um alto grau de desesperança a uma grande incapacidade de resolver problemas.

Daí a suma relevância do papel da família e amigos ao não fazer julgamentos e apoiar quem está manifestando indícios de depressão ou outros problemas de saúde mental. A ajuda psicológica profissional é de extrema importância para esses indivíduos e campanhas como a do Setembro Amarelo são importantes para alertar a população sobre o tema.

Fonte:
Dra. Elaine Di Sarno, Psicóloga. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e em avaliação neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Psicóloga pesquisadora do Programa de Esquizofrenia – PROJESQ do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atendimentos individuais e familiares (adultos, crianças e adolescentes) na abordagem cognitivo comportamental.
https://elainedisarno.com.br/