Cuidados com a saúde do coração beneficiam os rins e vice-versa

Cuidados com a saúde do coração beneficiam os rins e vice-versa

Coração e rins são a dobradinha perfeita para filtragem do sangue. Controle da pressão, do colesterol LDL e do diabetes devem fazer parte de medidas preventivas

Pressão alta, colesterol e diabetes. Embora muita gente não saiba, esses problemas não afetam apenas o coração: eles são capazes também de lesar os rins. “Rins e coração são verdadeiros parceiros dentro do nosso organismo. O rim, responsável por filtrar o sangue, é um órgão que pode sofrer consequências de doenças cardiovasculares. Por outro lado, as doenças renais também podem afetar o coração. Buscar estratégias para cuidar de ambos os órgãos é fundamental como forma de prevenir doenças e ter mais qualidade de vida”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Os rins ajudam a filtrar resíduos e fluídos extras do sangue, usando muitos vasos sanguíneos. Os rins auxiliam no controle da pressão arterial e beneficiam o coração. Por outro lado, os rins são órgãos muito vascularizados e precisam que o sangue circule adequadamente para funcionar. Eles se complementam”, acrescenta a médica.

A hipertensão arterial é uma pedra no caminho para rins saudáveis. “A longo prazo, a hipertensão descontrolada pode levar a uma sobrecarga no funcionamento do rim, que pode culminar com a disfunção renal crônica ou falência renal. Por isso, é fundamental adotar meios de controlar o aumento da pressão”, explica a médica nefrologista. “Quando os vasos sanguíneos são danificados, os néfrons que filtram o sangue não recebem o oxigênio e os nutrientes de que precisam para funcionar bem. É por isso que a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal”, explica a médica. “Com o tempo, a pressão alta descontrolada pode fazer com que as artérias ao redor dos rins se estreitem, enfraqueçam ou endureçam. Essas artérias danificadas não são capazes de fornecer sangue suficiente ao tecido renal”, diz a médica. Artérias renais danificadas não filtram bem o sangue. Os rins têm néfrons pequenos, semelhantes a dedos, que filtram o sangue. “Cada néfron recebe seu suprimento sanguíneo através de minúsculos capilares semelhantes a cabelos, o menor de todos os vasos sanguíneos. Quando as artérias são danificadas, os néfrons não recebem o oxigênio e os nutrientes essenciais. Em seguida, os rins perdem a capacidade de filtrar o sangue e regular os fluidos, hormônios, ácidos e sais no corpo. Além disso, os rins danificados não regulam a pressão arterial. Rins saudáveis respondem a um hormônio chamado aldosterona, que é produzido nas glândulas suprarrenais, para ajudar o corpo a regular a pressão arterial. Danos nos rins e pressão alta descontrolada contribuem para uma espiral negativa. À medida que mais artérias ficam bloqueadas e param de funcionar, os rins eventualmente falham”, destaca a médica Dra. Caroline Reigada, enfatizando que a insuficiência renal devido à pressão alta é um processo cumulativo que pode levar anos para se desenvolver.

Para limitar esse risco, é necessário gerenciar a pressão arterial. “É importante ficar claro que esse cuidado é um compromisso para toda a vida. O paciente deve ter uma dieta bem equilibrada com baixo teor de sal, limitar álcool, ter um consumo adequado de água, praticar atividade física regularmente, gerenciar o estresse, manter um peso saudável, parar de fumar, tomar seus medicamentos corretamente e trabalhar em conjunto com o seu médico”, diz a médica nefrologista. “Em casos de hipertensão resistente, caracterizada pela necessidade de três ou mais medicações, sendo uma delas um diurético, a fim de controlar adequadamente a pressão, os rins poderão ser protegidos se o paciente tomar regularmente os remédios e se ingerir pouco sal, além de realizar exercícios e ter boas escolhas alimentares”, acrescenta.

Outro tema que é sensível aos rins e coração é o colesterol alto. “O colesterol alto está associado à obstrução dos vasos, grandes ou pequenos, o que pode acontecer nos rins. Pequenas obstruções prejudicam o funcionamento desse órgão. A obstrução das pequenas artérias dentro do rim ou até das artérias renais reduzem o fluxo de sangue para os rins, podendo diminuir sua função. Esta é uma causa de insuficiência renal”, explica a médica.

Medidas alimentares para controlar o colesterol incluem a adição de fibras e gorduras boas. “Os alimentos ricos em fibras diminuem a absorção do colesterol, de gorduras e de açúcares. Consumir mais aveia e frutas cítricas pode ajudar”, explica a médica. No caso da gordura, nem todas são ruins. “Por exemplo, o DHA, abreviação de ácido docosaexaenoico, é um ácido graxo poli-insaturado que, quando ingerido regularmente, pode contribuir para o funcionamento cardíaco adequado e ajudar a diminuir os níveis de LDL e aumentar os níveis HDL, o colesterol ‘saudável’”, explica a Dra. Caroline, que aponta salmão, sardinha e atum como fontes populares de DHA. “Aposte também em alimentos ricos em ômega 3, como o salmão e as sementes de linhaça e chia, que é responsável por prevenir doenças cardiovasculares, evitar a formação de coágulos, diminuir os níveis de colesterol total e de LDL colesterol e aumentar as de HDL”, completa. “Controlar os níveis de açúcar no sangue também é parte importante do tratamento”.

Se você fuma, saiba que as inúmeras substâncias tóxicas presentes no cigarro podem oxidar o colesterol bom e transformá-lo em colesterol ruim. “Com o cigarro, os níveis de colesterol também ficam fora de controle, já que a fumaça aumenta os níveis de LDL, ou colesterol ‘ruim’, e de uma gordura no sangue chamada triglicerídeos. Isso faz com que uma placa de gordura se acumule em suas artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos”, explica a médica Dra. Caroline.

Por fim, outro assunto que deve entrar em pauta para proteção dos rins e do coração é o diabetes. “O diabetes é uma doença extremamente inflamatória, em que a quantidade exagerada de glicose no sangue é capaz de provocar a hiperfiltração do sangue nos rins (a chamada hiperfiltração glomerular). Além disso, ele eleva a concentração de produtos de glicosilação (processo no qual açúcares são adicionados em proteínas e lipídios, transformando-os em glicoproteínas e glicolipídeos) avançada, os maiores responsáveis pelas complicações do diabetes. Quando estes produtos ficam ativados pelo sistema único imunológico, aparecem as doenças dos vasos sanguíneos e dos nervos, assim como os prejuízos renais. São as denominadas complicações micro e macrovasculares do diabetes. Ou seja: microvascular – alteração de vasos menores, como dos rins e da retina; e macrovasculares – do coração e dos grandes vasos”, explica a médica. “O controle do diabetes, que apresenta fácil diagnóstico (um simples exame de sangue) deve objetivar, na maioria dos casos, uma hemoglobina glicada menor que 7%. Caso você tenha diabetes ou história familiar desta doença, ou ainda, esteja sobrepeso ou obeso, procure seu nefrologista. Lembre-se que o diabetes pode ser uma doença insidiosa. O diagnóstico do pré-diabetes e seu tratamento é a melhor forma de evitar complicações como as renais”, diz a médica.

Mais cuidados

Para ter coração e rins saudáveis, alguns cuidados básicos como beber muita água diariamente, manter uma alimentação equilibrada e o mais natural possível, dormir bem e praticar exercícios físicos são recomendações gerais para promover a saúde cardiovascular e renal. Segundo a Dra. Caroline Reigada, também é recomendável avaliar o estado dos rins e coração regularmente e buscar a orientação de um nefrologista, já que algumas doenças renais são assintomáticas. “O médico pode solicitar exames de urina, sangue, testes de imagens e, em alguns casos, biópsia renal”, finaliza.

Fonte:
Dra. Caroline Reigada.
Médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A médica é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, a Dra. Caroline Reigada participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.