Rinite alérgica: um desconforto difícil de vencer
Trata-se de uma condição respiratória crônica muito frequente, que, embora possa se manifestar esporadicamente, também pode se tornar permanente. Não coloca em risco a pessoa que a apresenta, porém afeta a qualidade de vida
A rinite alérgica é um distúrbio muito incômodo e frequente que afeta 20% da população geral. Ocorre tanto em crianças como em adultos, especialmente naqueles com histórico familiar de manifestações alérgicas. Pessoas com essa condição podem apresentar uma diminuição no desempenho acadêmico ou profissional, bem como ter dificuldades para realizar suas atividades cotidianas normalmente, como caminhar ao ar livre ou ter contato com animais. Além disso, essas pessoas podem apresentar distúrbios do sono, sonolência e cansaço, o que demonstra que as consequências dessa condição vão além dos fenômenos nasais. Os sintomas marcadores dessa condição incluem congestão nasal e rinorreia (corrimento ou secreção nasal), que ocorrem muitas vezes de forma simultânea, embora possam ocorrer independentemente um do outro. Em geral, são sintomas atribuídos ao resfriado comum, embora muitas vezes venham acompanhados desse processo alérgico das vias aéreas superiores. Se a congestão é causada por uma alergia e não é tratada corretamente, os sintomas perduram e se tornam recorrentes. Por isso, é importante reconhecer quando a congestão nasal é causada por uma alergia para tratá-la adequadamente.
Origem da doença
Para entender as manifestações da rinite, é importante inicialmente revisar alguns aspectos das cavidades nasais.
O nariz é a parte inicial das vias aéreas e cumpre diversas funções, como aquecer e umidificar o ar que passa para os pulmões, reter as impurezas provenientes do ar exterior e formar parte do aparelho de ressonância que confere um timbre característico à voz. É revestido por um epitélio, no qual as células são responsáveis pela percepção do olfato. Além disso, essa mucosa respiratória possui outras células de revestimento, uma grande quantidade de vasos sanguíneos, diversas células do sistema imunológico e glândulas com capacidade de produzir muco, substância que forma um filme responsável por capturar as partículas inaladas. Dessa maneira, o muco é deslocado para a faringe pelo movimento de pequenas extensões, chamadas cílios, que possuem as células que compõem o epitélio. Uma vez na faringe, o muco com as impurezas do ar externo é deglutido ou expectorado.
Na rinite alérgica, observa-se uma reação excessiva do sistema imunológico perante a exposição a certas substâncias chamadas alérgenos. Essa reação é leve em pessoas sem predisposição alérgica e geralmente não causa sintomas, porém, em pessoas que a apresentam, desencadeia uma série de reações inflamatórias que culminam nos sintomas de uma rinite. Três momentos são observados no desenvolvimento da rinite alérgica. Em primeiro lugar, a sensibilização ocorre quando o corpo entra em contato pela primeira vez com um alérgeno. Isso desencadeia uma série de fenômenos celulares que culminam na produção de imunoglobulina específica para esse alérgeno. Em segundo lugar, a reação precoce ou de hipersensibilidade imediata é aquela que ocorre minutos após o contato com o alérgeno pela segunda vez. Essa substância se liga à sua imunoglobulina específica, desencadeando a liberação de moléculas pró-inflamatórias, como histamina, leucotrienos, citosinas e várias enzimas, por algumas células. Essas moléculas são as mediadoras responsáveis pelas manifestações características. Como mencionamos, a mucosa nasal tem uma vascularização abundante, células do sistema imunológico e glândulas que produzem muco. Quando ocorre uma reação inflamatória nessa região do corpo, encontramos manifestações, como congestão nasal e rinorreia (corrimento ou secreção nasal) observadas pela estimulação das glândulas mucosas, espirros e coceira ou prurido, que são secundárias à estimulação de terminações nervosas da mucosa nasal.
Em terceiro e último lugar, ocorre a reação tardia, que é observada horas após a exposição ao alérgeno, pode durar dias e é devida à ação dos leucócitos, como os eosinófilos, que são produtores de substâncias inflamatórias implicadas no desenvolvimento de edema e danos teciduais.
Tipos de rinite alérgica
A rinite alérgica pode ocorrer com uma frequência sazonal ou persistir ao longo do ano (rinite alérgica perene). A rinite alérgica esporádica e a rinite alérgica ocupacional também são reconhecidas.
A rinite alérgica sazonal, como o próprio nome indica, tem uma relação temporal com as estações do ano. Na primavera, geralmente é desencadeada pelo pólen das árvores (por exemplo, carvalho, ácer, oliveira). Durante o verão, a rinite alérgica pode ser atribuída à exposição ao pólen da grama e do mato; ao mesmo tempo, isso poderia desencadear os sintomas de rinite alérgica nos meses de outono.
É importante considerar que as causas da rinite variam de acordo com a região e que a rinite sazonal também pode ser causada, ainda que ocasionalmente, por esporos de fungos que se movem com o ar.
Outra forma de rinite alérgica é a rinite perene. Ao longo do ano, essa forma ocorre como consequência da exposição aos alérgenos domésticos (como, por exemplo, ácaros de pó, baratas, caspa ou pelos de animais) ou exposição ao pólen de plantas que são muito reativas, capazes de desencadear quadros alérgicos durante todas as estações do ano. A rinite alérgica esporádica, por sua vez, é aquela em que se observam episódios breves e intermitentes de rinite. Geralmente ocorre devido à exposição aos materiais animais, pólen ou alérgenos domésticos com os quais não há contato frequente.
A rinite alérgica ocupacional é causada pela exposição aos alérgenos no ambiente de trabalho e pode ser esporádica, sazonal ou perene. Ocorre com mais frequência em pessoas que trabalham com animais, em relação a agricultura, látex, pó de madeira ou certas substâncias químicas.
Manifestações da rinite alérgica
As pessoas que sofrem de rinite alérgica devido à exposição ao alérgeno para o qual estão sensibilizadas apresentam, em poucos minutos, sintomas característicos, como congestão nasal, corrimento e secreção nasal e coceira ou prurido nasal, que também pode ser estendido para boca e olhos. Junto com a congestão e a secreção nasal, estão presentes espirros, lacrimejamento e obstrução nasal. Os sinais da rinite (aspectos que podem ser observados) incluem inflamação e vermelhidão da mucosa do nariz e, em alguns casos, rinite sazonal, inflamação da conjuntiva ocular e das pálpebras.
A obstrução nasal geralmente causa dor de cabeça. A sinusite (inflamação e infecção dos seios paranasais) é uma complicação frequente da rinite alérgica, especialmente quando não é tratada corretamente e seus sintomas são confundidos com os de um resfriado simples. Outros sintomas, como tosse e sensação de falta de ar, podem aparecer, principalmente quando a asma brônquica é subjacente ao quadro de rinite alérgica. O aspecto mais característico da rinite alérgica perene é a obstrução nasal que permanece ao longo do tempo (crônica) e que em crianças pode levar ao desenvolvimento de uma otite média crônica. Os sintomas de longo prazo da rinite alérgica variam em gravidade ao longo do ano. O prurido é um sintoma menos importante em comparação com a rinite sazonal.
Aspectos gerais do tratamento
Sem dúvida, uma das medidas mais importantes é a determinação dos fatores desencadeantes e a combinação de estratégias de controle ambiental, tendendo a evitar a exposição aos alérgenos. Essa estratégia é frequentemente complementada pelo tratamento farmacológico, que inclui o uso de medicamentos sem e com prescrição médica, para aliviar os sintomas da doença.
Existem vários medicamentos que ajudam a diminuir os sintomas desse distúrbio alérgico. Os corticosteroides inalados por via nasal reduzem e controlam o impacto de todos ou da maioria dos mediadores que podem causar inflamação no nariz. Além disso, melhoram os sintomas nasais, incluindo coceira, coriza e congestão.
Os anti-histamínicos por via oral e nasal bloqueiam a histamina, um dos mediadores mais importantes da resposta alérgica. A liberação de histamina produz muitos sintomas de alergia, entre os quais são também mencionados espirros, coriza e coceira nos olhos e no nariz.
Os descongestionantes reduzem a sensação de congestão e de “nariz entupido”, embora não seja recomendado o uso por períodos prolongados. Os modificadores de leucotrieno bloqueiam a ação dos leucotrienos, um mediador de sintomas de alergia e inflamação. Esses compostos se ligam a seus receptores específicos localizados nas vias aéreas, induzem a broncoconstrição, a secreção de muco, o aumento da permeabilidade capilar e o recrutamento de eosinófilos.
A imunoterapia alergênica, também conhecida como “injeções para a alergia”, pode ser considerada se os sintomas persistirem.
Esse tratamento envolve administração de injeções de forma intermitente por um longo período, com o objetivo de desenvolver a resistência crescente aos alérgenos específicos e diminuir a necessidade de medicamentos no futuro.