Pediculose

Pediculose

Saber como e por que ocorre é o primeiro passo para a implementação de medidas preventivas e de um tratamento efetivo

Os piolhos do couro cabeludo são parasitas cujo nome científico é Pediculus capitis. Vivem toda sua vida no ser humano e em outros mamíferos. São de cor cinza-amarronzada, com 3 a 4 mm de comprimento, sendo o macho menor que a fêmea. Não têm asas, possuem forma ovoide e alimentam-se do sangue do hospedeiro por meio de um aparato perfurador e sugador. Durante sua vida, de aproximadamente 40 dias, a fêmea põe cerca de 300 ovos (lêndeas) que estão cementados ao corpo do cabelo com um material pegajoso que ela mesma produz. A temperatura ideal para as lêndeas é de 31°C e costuma-se encontrá-las a 3 ou 4 mm do couro cabeludo, sobretudo na região da nuca e atrás das orelhas. Os ovos são amarelo-esbranquiçados, ovais e amadurecem em aproximadamente 1 semana. As ninfas que nascem das lêndeas atingem a fase adulta em 2 a 3 semanas, prontas para pôr novos ovos, fechando-se, assim, o ciclo vital do parasita.

Como ocorre o contágio da pediculose?

A pediculose não significa falta de higiene pessoal, tendo em vista que afeta todos os grupos socioeconômicos. Também não depende da lavagem ou modo de pentear nem do comprimento do cabelo. A transmissão de pessoa para pessoa ocorre por contato direto com o cabelo de pessoas parasitadas ou, com muito menor frequência, de forma indireta, pelo contato com seus objetos pessoais, como pentes, escovas e chapéus. Os piolhos podem sobreviver fora da cabeça somente por menos de 48 horas, mas durante esse intervalo são capazes de permanecer em roupas de cama, tapetes, tapeçarias, bichos de pelúcia e, inclusive, águas cloradas de piscinas.

Escolas e creches são locais ideais para o contágio da pediculose, uma vez que as crianças costumam ficar muito próximas umas das outras. Por isso, são frequentes os recontágios após ela ter sido eliminada de uma criança quando esta retorna ao colégio.

Os adultos também podem sofrer de pediculose, sobretudo aqueles que estão em contato com crianças, como professores e auxiliares de escolas e creches.

Os homens adultos costumam resistir à colonização do piolho, provavelmente devido a certos fatores hormonais. Por outro lado, as mulheres adultas têm as mesmas probabilidades de contágio que as crianças pequenas, salvo se utilizarem tinturas para cabelo, que atuam como “repelentes” dos piolhos.

Quais os problemas causados pelos piolhos?

Muito se fala da pediculose e de como combatê-la, mas… por que é necessário fazer isso? Os piolhos não constituem um perigo para a saúde porque não são responsáveis pela disseminação de nenhuma doença, mas é fato que sua presença é capaz de ocasionar uma série de complicações, além dos incômodos em si que originam.

A comichão é o primeiro sintoma causado pela pediculose e o mais incômodo, ainda que algumas crianças sejam assintomáticas. E é precisamente essa intensa comichão que traz outros problemas associados. As lesões por coceira são frequentes e é comum observar feridas e escoriações no couro cabeludo das pessoas com pediculose. Também é habitual que aumentem, ainda que discretamente, os gânglios da nuca e os localizados atrás das orelhas, geralmente como reação às lesões do couro cabeludo. Em algumas pessoas, a pediculose produz reações alérgicas na pele, sobretudo na nuca, em que podem aparecer erupções muito pruriginosas que não fazem nada além de agravar os incômodos provocados pela presença por si só dos piolhos na cabeça.
As lesões por coceira do couro cabeludo são infectadas com suma facilidade pelos mesmos germes que costumam colonizar a pele. Isso costuma trazer como consequência a presença de crostas, lesões supuradas e, em casos mais importantes, infecções graves, como abscessos e celulite de couro cabeludo, que requerem tratamento antibiótico imediato.

Como a pediculose é tratada?

Existe uma ampla variedade de produtos disponíveis no mercado para o tratamento da pediculose. No entanto, é frequente que o tratamento desse transtorno torne-se uma empreitada difícil, longa e frustrante por diversos motivos. É que o combate contra os piolhos não consiste apenas na aplicação de produtos específicos no cabelo, mas em uma série de medidas que são tão importantes quanto o uso de pediculicidas e das quais não se pode esquivar.

A pessoa com pediculose vive em determinado hábitat, no qual permanecerão os piolhos até que sejam tomadas as medidas necessárias. Como mencionado, tapetes, tapeçarias, roupas de cama, roupas de uso frequente, bichos de pelúcia etc. podem conter piolhos que rapidamente voltarão ao couro cabeludo se não forem eliminados. Da mesma forma, é vital controlar todos os conviventes para detectar a pediculose, mesmo que não tenham sintomas. Uma vez realizado esse “levantamento”, deve-se começar o tratamento, tanto das pessoas como do ambiente.

Nas pessoas com pediculose deve ser aplicado um pediculicida. Geralmente, estes contêm permetrina em variadas concentrações, embora a recomendada seja de 1%. Concentrações menores costumam ser ineficazes, e as superiores a 1% são mais efetivas, mas têm riscos de toxicidade sobre o couro cabeludo, inclusive podem ser absorvidas através da pele nas crianças pequenas. Deve-se ter em conta que esse tipo de produto não pode ser utilizado em menores de 2 anos nem em gestantes, já que, nesses casos, os riscos superam os benefícios. Existem outros produtos que contêm lindano, embora seu uso seja discutido por se tratar de um produto de toxidade relativamente alta.

Os produtos com permetrina a 1% costumam ser comercializados como cremes de enxague que devem ser deixados no cabelo durante 10 minutos, tratamento que pode ser repetido semanalmente. O uso mais frequente desses produtos não oferece mais vantagens, pelo contrário, costuma causar efeitos tóxicos e reações alérgicas.

Os produtos pediculicidas, como seu nome indica, costumam matar os piolhos, mas não têm qualquer efeito sobre as lêndeas, portanto, depois de cada aplicação, deve-se passar o pente fino muito cuidadosamente. De nada serve pentear o cabelo com um pente fino, deve-se dividi-lo mecha por mecha e passar o pente cuidadosamente desde a raiz até sua extremidade. Esse procedimento pode ser realizado embebendo-se o cabelo com vinagre, que amolece em certa medida a cola que fixa as lêndeas ao cabelo, favorecendo, assim, seu desprendimento. Em gestantes e crianças menores de 2 anos, o único tratamento que pode ser realizado sobre o cabelo é a aplicação de vinagre e a passagem cuidadosa do pente fino, sem o uso de pediculicidas.

O tratamento com permetrina deve ser sempre repetido semanalmente, já que pode haver ficado lêndeas viáveis das quais nascerão novos parasitas. Entre aplicação e aplicação, durante os demais dias da semana, é preciso continuar com a extração de lêndeas: o cabelo é lavado com xampu comum e enxaguado posteriormente com vinagre, processo durante o qual será passado o pente fino mecha por mecha. Se não for realizada essa tarefa diariamente, as possibilidades de erradicação da pediculose são quase nulas.

Se as crianças voltam a um ambiente onde a pediculose é epidêmica, como costuma ocorrer nas escolas, o processo de enxague com vinagre e pente fino deve ser realizado cotidianamente e, no momento em que forem detectados piolhos, serão aplicados os produtos pediculicidas, como mencionado.

Ao mesmo tempo, se for realizado todo o tratamento prolixa e conscienciosamente e nada for feito em relação ao hábitat em que vive a pessoa com pediculose, é muito provável que o tratamento não sirva de nada. É por isso que existe uma série de medidas a serem tomadas paralelamente ao tratamento pediculicida. A roupa de cama, a roupa de uso frequente e os bichos de pelúcia de uso cotidiano devem ser guardados em uma sacola fechada durante 48 horas (para eliminar o oxigênio necessário à sobrevida do parasita), após as quais devem ser lavados em máquinas de lavar com ciclo quente ou, ainda, fervidos em uma panela. Os tapetes, tapeçarias da casa e do automóvel devem ser ventilados ao ar livre, e é recomendável a aplicação de produtos inseticidas não tóxicos para humanos.

Dessa forma, ataca-se o parasita em todas as frentes, e, assim, as possibilidades de sucesso são maiores, ainda que, sem dúvida, aquele que empreenda a tarefa com paciência e tenacidade será o que obterá os melhores resultados.

Imagem: Freepik