Câncer de mama: detecção precoce e avanços da medicina melhoram sobrevida

Câncer de mama: detecção precoce e avanços da medicina melhoram sobrevida

O Centro de Oncologia Campinas fez um levantamento de 920 casos de câncer de mama atendidos recentemente na unidade. Os resultados confirmam que a detecção precoce e o tratamento correto, somados aos avanços da medicina, podem fazer a diferença de vida para as mulheres. Segundo o estudo, 85% dessas pacientes se enquadraram na taxa de sobrevida de 10 anos. Ou seja, viveram ao menos dez anos a partir do diagnóstico da doença.

A taxa de sobrevida é usada para referenciar o prognóstico de um paciente; permite também estabelecer uma probabilidade de sucesso do tratamento. As taxas de sobrevida do câncer de mama têm aumentado graças a campanhas como a do Outubro Rosa, que resultam em maior número de diagnósticos precoces. E também em razão dos avanços da medicina.

Existe um estudo de casos nos Estados Unidos que mostra que entre 1975 e 1977, a sobrevida a cinco anos do câncer de mama era de 75% no país. Entre 2007 e 2013, saltou para 91%. O conhecimento sobre a doença trouxe a prevenção e avanços nos tratamentos para continuar evoluindo nos números.

O câncer mama é o mais prevalente em mulheres em todo o mundo – atinge anualmente perto de 2,3 milhões de pessoas. No Brasil, também é o de maior incidência nesse grupo, depois do câncer de pele não-melanoma. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de mais de 66 mil novos casos no país por ano. No Centro de Oncologia Campinas, a doença responde por cerca de 30% de todos os casos de câncer em mulheres e representa 10% do total de diagnósticos da doença na unidade.

A informação é arma essencial para melhorar as estatísticas e tirar da neoplasia de mama a condição de principal causa de mortes por câncer em mulheres. De nada adianta oferecer condições a quem desconhece aquilo com o que está lidando. Para realizar mamografias regulares, por exemplo, a mulher precisa entender o quanto o diagnóstico precoce colabora para vencer a doença. A compreensão é parceira da cura.

Localizações mais frequentes do adenocarcinoma mamário.

Um aspecto importante no processo de entender e combater o câncer de mama é compreender que há formas simples e eficientes de minimizar os riscos. O estilo de vida influencia em cerca de 75% dos casos. Alterações genéticas, hereditariedade e outras causas respondem pelo restante. E o que é importante: nós podemos sim agir contra esses fatores de risco.

Na linha de frente da prevenção primária está o estilo de vida saudável: boa alimentação, controle da ingestão de bebidas alcóolicas, sobretudo destilados, e atividades físicas regulares. Exatamente tudo que faz bem para a saúde em geral e contribui para evitar a obesidade, um outro importante fator de risco do câncer de mama. A obesidade, por sinal, acarreta tecido mamário denso, com muitas glândulas e quanto mais glândulas, maiores as chances.

A reposição hormonal também deve ser considerada com cautela. Não é contraindicada na menopausa, quando se tem muitos sintomas, porém, é preciso ter cuidado ao fazer uso dela. Vemos o aumento de casos de câncer de mama em mulheres jovens, o que pode ter relação com o crescimento do uso de anticoncepcionais. Mulheres com maior número de ciclos menstruais e com menopausa tardia também apresentam risco aumentado para a doença.

A prevenção primária deve se somar à prevenção secundária para poder abraçar de forma eficiente a tarefa de minimizar os riscos do câncer de mama. A prevenção secundária envolve todas as ações voltadas ao diagnóstico precoce. Conhecer a própria mama por meio do autoexame contribui para detectar anormalidades, mas a mamografia é ainda mais eficiente, porque detecta o câncer quando ele ainda não é sensível ao toque, o que resulta em um diagnóstico ainda mais precoce e com melhores chances de resposta ao tratamento.

Embora atinja mulheres de todas as idades, o câncer de mama é mais prevalente a partir dos 40 anos. As mulheres negras costumam apresentar tipos mais agressivos da doença. Porém, na análise do recorte de casos e raças, estudos mostram que fatores socioeconômicos interferem no coeficiente, uma vez que pretas e pardas têm menos acesso a exames e tratamentos, o que resulta em casos mais avançados da doença.

Todas as anormalidades na mama precisam ser investigadas, embora mais de 80% dos achados de mama não sejam câncer.

Na esteira da prevenção e dos cuidados com a saúde, o Outubro Rosa evidencia a luta para superar o paradigma de que o diagnóstico é uma sentença condenatória. A evolução dos tratamentos trouxe novas perspectivas e mais confiança aos que são diagnosticados. Porém, é preciso a colaboração para conseguir êxito na missão de alcançar o diagnóstico precoce.

Boa parte da informação necessária para combater o câncer de mama vem por meio de campanhas como a do Outubro Rosa, que orienta, conscientiza e ensina. Saber, por exemplo, que o histórico familiar para a doença é importante, ou que uma alimentação saudável e atividades físicas reduzem riscos, contribui para a maior atenção ao câncer, a seus sinais e para diminuir os riscos.

Autor:
Dr. Fernando Medina da Cunha é Oncologista Clínico e diretor técnico do Centro de Oncologia Campinas. Foi fundador e chefe da Disciplina de Oncologia Clínica do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Também presidiu a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
CRM: 43.587.