Olimpíadas, Rebeca Andrade, Simone Biles, saúde mental e o setembro amarelo

Olimpíadas, Rebeca Andrade, Simone Biles, saúde mental e o setembro amarelo

Os dados estão aí e aqui: De acordo com estudo epidemiológico a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%, isoladamente ou associada a um transtorno físico. E, ainda, a depressão situa-se em 4º lugar entre as principais causas de ônus, respondendo por 4,4% dos ônus acarretados por todas as doenças durante a vida. Ocupa 1º lugar quando considerado o tempo vivido com incapacitação ao longo da vida (11,9%). Estudos mostram prevalência ao longo da vida em até 20% nas mulheres e 12% para os homens.

E tudo isso tem a ver com o que acabamos de assistir pela mídia: Olimpíadas. E não se restringe somente à cobrança por resultados nos esportes, mas, observa-se a óbvia analogia que pode ser feita em relação à vida de todos nós: cobranças, muito trabalho, casa e filhos como responsabilidade (ainda muito mais atrelada às mulheres), exaustão, cansaço físico e mental etc.

Além das medalhas e conquistas de atletas de todo o mundo, é importante destacar a força mental e resiliência que esses esportistas demonstraram durante as competições. Cuidar da saúde mental foi tão crucial quanto o treinamento físico, garantindo o equilíbrio necessário para enfrentar desafios e dar o seu melhor.

A pressão pela vitória nas Olimpíadas, em outras competições e NA VIDA pode ter um impacto significativo no psicológico dos indivíduos. O desejo de alcançar a excelência, combinado com as expectativas de outras pessoas, familiares, amigos e de si próprios, pode gerar um estresse emocional intenso. Essa pressão pode levar a uma série de desafios mentais, incluindo ansiedade, medo do fracasso e até mesmo depressão. Muitos atletas e não atletas sentem a necessidade constante de provar seu valor, o que pode resultar em um estado de alerta permanente e dificuldade em relaxar.

Além disso, o ambiente altamente competitivo das Olimpíadas ou do ambiente de trabalho ou na escola ou faculdade, intensifica esses sentimentos. A comparação constante com outras pessoas, principalmente com o advento das redes sociais e o medo de desapontar podem prejudicar a autoconfiança e o bem-estar emocional. Para lidar com essas pressões, é crucial que as pessoas tenham acesso a um suporte psicológico adequado e profissional. Nesse sentido, a psicoterapia pode ajudar na construção de estratégias de enfrentamento, fortalecimento da resiliência e promoção de um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional. O acompanhamento psicológico é fundamental para que todos possam não apenas alcançar seus objetivos, mas também manter a saúde mental em dia.

Durante os Jogos Olímpicos de Paris ouvimos em entrevistas a atleta Rebeca Andrade, que conquistou quatro medalhas na cidade-luz, falando muito sobre a importância de sua terapia e os cuidados com sua saúde mental.

A jovem atleta, inclusive, surpreendeu com sua tranquilidade antes e durante algumas provas, tendo contado que fica pensando em receitas de comida para fazer no Brasil antes de dar um salto ou fazer piruetas que mais parecem ser mágicas aos nossos olhos. Certamente, e como ela mesma já afirmou, tudo fruto do resultado de um trabalho intensivo junto a sua psicóloga e de muitos anos.

Já a também superatleta Simone Biles, desistiu das competições nas Olimpíadas de 2020, em Tóquio. O motivo: precisava cuidar da saúde mental! Foi criticada e tida, por muitas pessoas, como fraca.

Fraca? Uma mulher que foi abandonada pelos pais biológicos, adotada, viveu em orfanato, conheceu a pobreza, se tornou uma das atletas mais renomadas do mundo, carrega mais de 20 medalhas ao todo em diferentes competições. Não, ela é forte demais ao tomar a correta decisão de se retirar do palco para cuidar da saúde mental e voltar gigante e brilhando ainda mais em 2024 em Paris.

Essa pausa que Simone deu pode ter salvado sua vida, literalmente. Caso seguisse em frente após o que estava passando em 2020, não saberíamos o que de pior poderia acontecer.

E assim devemos fazer nas nossas vidas. Naturalmente, sabemos que nem todos podem “parar” o que estão fazendo, largar o emprego, a casa ou a família para se cuidar. Contudo, há recursos que podem ser adotados simultaneamente à vida em curso, como a terapia online, seja particular, pelo convênio médico ou por programas gratuitos de apoio a pessoas com menos recursos financeiros.

O Sistema Único de Saúde – SUS, tem um excelente atendimento em saúde mental, GRATUITO, a toda a população. É importante marcar uma consulta inicial para que o tratamento seja encaminhado.

Buscar informação de fontes confiáveis e seguras é crucial para lidar com questões de saúde mental. Procurar sua rede de apoio na família e amigos também é altamente relevante no enfrentamento de questões de saúde mental.

Campanhas como a do Setembro Amarelo auxiliam, significativamente a jogar luz sobre o tema e a ir destruindo, aos poucos, o tabu em torno da saúde mental.

A saúde mental é a chave para grandes vitórias, dentro e fora das competições esportivas e, principalmente, NA VIDA DE TODOS NÓS! Saúde física e mental devem andar de mãos juntas!

Fonte:

Dra. Elaine Di Sarno. Psicóloga e Neuropsicóloga pela USP. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e em avaliação neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Psicóloga
pesquisadora do Programa de Esquizofrenia – PROJESQ do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atendimentos individuais e familiares na abordagem cognitivo comportamental. 
Instagram: @elainedisarno
Site: elainedisarno.com.br

Foto: Carlos Alkmin