Obesidade e distúrbios reprodutivos em mulheres

Obesidade e distúrbios reprodutivos em mulheres

Um estudo de Oxford mostra que obesidade está associada a uma série de distúrbios reprodutivos femininos, incluindo miomas uterinos, síndrome dos ovários policísticos, sangramento menstrual intenso, hipertensão em gestantes e infertilidade

A obesidade está associada a um risco aumentado de desenvolver distúrbios reprodutivos femininos, no entanto, os papéis e mecanismos que associam a obesidade a certas condições reprodutivas ainda não eram tão claros. Um estudo da Universidade de Oxford publicado em fevereiro de 2022 na PLOS Medicine destaca novas ligações nessa relação. “Os pesquisadores encontraram associações observacionais entre obesidade e uma série de distúrbios reprodutivos femininos, incluindo miomas uterinos, síndrome dos ovários policísticos, sangramento menstrual intenso e pré-eclâmpsia – a doença hipertensiva específica da gravidez. Eles também descobriram que algumas variações genéticas hereditárias associadas à obesidade também estão associadas a distúrbios reprodutivos femininos, mas a força dessas associações difere pelo tipo de obesidade e condição reprodutiva”, explica o ginecologista obstetra Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.

Para investigar as associações causais entre obesidade, hormônios metabólicos e distúrbios reprodutivos femininos, os pesquisadores conduziram um estudo com 257.193 mulheres de ascendência europeia com idades entre 40 e 69 anos. Eles acessaram registros do UK Biobank, um banco de dados biomédico em grande escala contendo informações médicas, ambientais e genéticas dos participantes. Os pesquisadores então criaram um modelo estatístico para estimar a associação do índice de massa corporal e da relação cintura-quadril com o risco de inúmeras condições reprodutivas femininas, incluindo endometriose, sangramento menstrual intenso, pré-eclâmpsia e infertilidade. “Todas essas condições estão associadas a uma maior dificuldade em engravidar, ao maior risco de abortos de repetição e problemas gestacionais”, diz o Dr. Fernando.

De acordo com os autores, o estudo fornece evidências genéticas de que a obesidade, generalizada e central, desempenha um papel causal em uma ampla gama de condições reprodutivas femininas.

Distúrbios ginecológicos associados à obesidade

O estudo, segundo o especialista, mostrou que hormônios como a leptina, que é secretada pelas células adiposas, e a insulina, hormônio secretado para transportar a glicose, mediam a associação genética da obesidade com a pré-eclâmpsia. Além disso, o trabalho sugere que alguns problemas podem surgir ainda na infância, já que ter um peso comparativamente maior do que a média aos 10 anos de idade, conforme autorrelato, estava associado ao aumento da prevalência de endometriose, sangramento menstrual intenso, Síndrome dos Ovários Policísticos e miomas uterinos. “Investigações baseadas em genética como essas fornecem suporte para o papel da obesidade no aumento do risco de condições reprodutivas, reforçando a necessidade de abordar o aumento das taxas de obesidade na população. O aumento da obesidade e a resistência à insulina são fatores de risco potencialmente modificáveis, e abordar esses fatores de risco pode ajudar a mitigar ou tratar distúrbios reprodutivos femininos, mas pesquisas adicionais devem confirmar que sua manipulação influencia o risco de doença. De qualquer maneira, já é uma prática médica indicar mudanças no estilo de vida para pacientes acima do peso que queiram engravidar, pois essas intervenções podem melhorar a saúde, diminuindo o risco de infertilidade e, também, problemas gestacionais”, finaliza o Dr. Fernando.

Fonte: Dr. Fernando Prado: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. Diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo. Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE).