Mitos e verdades sobre a proteção solar
Dermatologista desmistifica as principais questões envolvendo o uso do produto responsável por proteger a pele contra os danos causados pela radiação solar, que podem favorecer o surgimento de manchas, rugas e até câncer de pele
Hoje em dia todo mundo sabe sobre os danos que a radiação solar pode causar em nossa pele e a importância da fotoproteção para preveni-los. Além disso, as formas de fotoproteção têm se tornado mais amplas, sendo possível encontrar fotoprotetor em pó, spray, bastão, creme, gel, entre outras formulações. Porém, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o assunto. Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Campanha Nacional do Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, realizada em dezembro de 2019, mais de 60% dos brasileiros não usam nenhum tipo de proteção no dia a dia. Então, para ajudar a mudar esse quadro, o Dr. Daniel Cassiano, dermatologista da Clínica GRU Saúde e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, apontou os principais mitos e verdades relacionados à fotoproteção. Confira:
• Protetor solar não precisa ser usado em dias nublados. Mito. “É claro que os níveis de radiação solar são geralmente maiores quando não há presença de nuvens, que tendem a atenuar a quantidade de radiação na superfície terrestre. No entanto, mesmo com a presença de nuvens, os níveis de radiação UV podem variar bastante. Por exemplo, enquanto nuvens escuras são capazes de impedir quase totalmente os fluxos de radiação, nuvens menos espessas e mais claras promovem apenas uma atenuação parcial. Existem situações específicas ainda, como a presença de nuvens cumulus ou cirrus, que podem intensificar a radiação solar, tornando os níveis superiores àqueles observados em dias de céu limpo. Devido a essa grande variabilidade, não é possível fornecer um parâmetro ou um percentual de atenuação da radiação UV pela nebulosidade, o que torna o uso do fotoprotetor indispensável mesmo em dias nublados”, explica o dermatologista.
• O protetor solar causa acne. Mito. Atualmente existem no mercado produtos com veículos não comedogênicos, ou seja, que não provocam acne. “O ideal então é que pacientes com a pele oleosa optem por protetores solares em gel ou gel-creme que sejam formulados com substâncias que ajudem a absorver a oleosidade durante o dia, como a sílica. É possível até mesmo encontrar produtos que contêm substâncias anti-inflamatórias, como o gluconato de zinco, que auxiliam no tratamento da acne”, aconselha o médico.
• É preciso esperar que o protetor comece a agir antes de se expor ao sol. Verdade. A aplicação inicial do fotoprotetor deve ser estratégica para garantir o sucesso da fotoproteção. “Estudos para determinação de FPS e PPD-UVA mostraram que é necessário um intervalo de, no mínimo, 15 minutos entre a aplicação do produto e o início da exposição para que a fotoproteção seja eficaz. Mas já existem protetores solares que demonstram sua efetividade logo após a aplicação, sem que seja necessário o intervalo de 15 minutos. Por isso, o ideal é pedir uma recomendação do dermatologista sobre a melhor maneira de utilizar cada produto”, destaca o especialista. “Outro aspecto importante na hora de aplicar o fotoprotetor é a uniformidade da aplicação, evitando que algumas áreas sejam esquecidas ou que haja aplicação insuficiente do produto. Por esses fatores, recomenda-se que o fotoprotetor seja aplicado, de preferência, antes do início da exposição ao sol e, no caso do corpo, com a menor quantidade possível de roupas.”
• É fundamental a reaplicação do protetor solar após contato com a água. Verdade. “Os protetores solares passam por testes de resistência à água para avaliar se são capazes de manter a eficácia mesmo após longos períodos de imersão. Essa avaliação é especialmente importante para produtos destinados à exposição intencional ao sol, como a realização de atividades aquáticas e práticas esportivas. Mas, mesmo que o protetor solar seja resistente à água, solicitamos que o paciente sempre reaplique o produto após se molhar para realmente garantir sua eficácia”, recomenda o Dr. Daniel.
• O filtro solar com cor protege mais a pele do que a versão tradicional. Verdade. “Isso porque a tonalidade do filtro solar é proporcionada pela presença de óxido de ferro na composição, substância capaz de absorver a radiação visível do sol. Hoje, sabemos que a luz visível tem uma participação importante no processo de pigmentação da pele, favorecendo o desencadeamento de dermatoses pigmentárias, como melasma e hipercromia pós-inflamatória”, diz o médico.
• Usar maquiagem com fator de proteção solar dispensa o uso do filtro. Mito. “Geralmente, o FPS das maquiagens é muito baixo, sendo insuficiente para proteger a pele. Então, para quem usa maquiagem, o ideal é optar por um protetor solar com cor de alta cobertura, que, além de ser eficaz na proteção, também atua como base”, alerta o dermatologista.
• Apenas pessoas de pele clara precisam utilizar protetor solar. Mito. Todos devem realizar a fotoproteção diariamente. “A diferença é que, dependendo do tom da pele, a proteção precisa ser maior ou menor, mas sempre deve existir. No geral, pessoas de fototipo 1 (pele clara + sardas) ou fototipo 2 (pele clara + cabelo loiro) precisam de uma megaproteção (FPS 50+). No caso de fototipo 3 (pele clara + cabelos castanhos) ou fototipo 4 (pele morena + cabelos castanhos), é indicada uma superproteção (FPS 30 ou 50). Por fim, os fototipo 5 (pele morena mais escura) ou fototipo 6 (pele negra) precisam de uma proteção eficiente (FPS 30)”, finaliza o Dr. Daniel Cassiano.
*Dr. Daniel Cassiano: dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. Cofundador da Clínica GRU Saúde, é formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e doutor em Medicina Translacional também pela UNIFESP. Professor de Dermatologia do curso de Medicina da Universidade São Camilo, possui amplo conhecimento científico, atuando nas áreas de dermatologia clínica, cirúrgica e cosmiátrica.