Impacto psicológico da psoríase é tão alto quanto o físico

Impacto psicológico da psoríase é tão alto quanto o físico

29 de outubro é o Dia Mundial da Psoríase. Pacientes com casos graves da doença podem sofrer mais do que os olhos podem ver. Orientação profissional, dermatológica e psicológica, é fundamental para controlar os sintomas e diminuir os efeitos emocionais, que podem aumentar a inflamação sobre a pele

No dia 29 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Psoríase, doença de pele que, assim como muitas outras, é influenciada pela saúde emocional. “Causada por fatores genéticos e agravada pelo estresse, falta de exposição solar e outros agressores ambientais, a psoríase é uma doença autoimune e crônica caracterizada pelo surgimento de lesões descamativas e avermelhadas na pele”, explica a Dra. Paola Pomerantzeff, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Mas é fundamental que o tratamento inclua a saúde mental do paciente, informa a médica. Segundo estudo publicado na revista médica JAMA Dermatology, os sintomas da psoríase na pele ainda podem causar grande impacto na saúde mental do paciente. “Apesar de ser uma doença benigna e não contagiosa, a psoríase pode gerar um impacto significante na qualidade de vida e na autoestima do paciente, atrapalhando-o tanto fisicamente, quanto psicologicamente e socialmente”, destaca a médica. Segundo a pesquisa, os sintomas cutâneos da psoríase podem aumentar em 32% o risco de doenças mentais causada por sintomas de pele, como depressão e ansiedade, podendo levar até mesmo ao suicídio. Abaixo, a médica explica mais sobre os sintomas físicos e psicológicos da psoríase.

Sintomas físicos

Muitas pessoas pensam que a psoríase é contagiosa – e elas não querem apertar a mão de alguém com a doença, por exemplo. “Se uma em cada três pessoas que você encontra na rua vai ter essa visão de sua pele, isso é realmente difícil de enfrentar. A psoríase pode isolar o paciente socialmente e fazer com que as pessoas se sintam ansiosas e deprimidas”, diz a médica. Mas é necessário deixar claro: a psoríase não é contagiosa. “É uma doença autoimune comum da pele, na qual seu corpo reconhece uma proteína normal da pele como anormal e tenta se livrar dela fazendo a pele descamar. Isso resulta em placas grandes, espessas e escamosas que racham e sangram, e podem ser dolorosas e apresentar coceira”, diz a dermatologista. As áreas de impacto podem variar, mas algumas das mais sensíveis são o couro cabeludo, rosto, genitais e unhas. “Muitos pacientes não usam shorts ou mangas curtas porque seus joelhos ou cotovelos estão afetados. O início típico é na idade adulta jovem, mas há relatos de bebês e até uma paciente na casa dos 80 anos, que experimentou pela primeira vez depois que sua irmã morreu. Estudos têm mostrado que as pessoas que enfrentam eventos importantes na vida têm maior risco de desenvolver psoríase e que os pacientes com psoríase relatam níveis mais elevados de estresse. Existe uma relação cíclica”, diz a médica.

Segundo a Dra. Paola, por mais difícil que seja a doença da psoríase, há várias maneiras de tratá-la. “Pode levar semanas ou meses para ver os resultados. Quando a doença é localizada, as pessoas gostam de medicamentos tópicos, que diminuem o crescimento do excesso de células da pele [que constituem as placas da psoríase]. Mas podem não funcionar para alguns pacientes e são inconvenientes, especialmente se várias áreas forem afetadas. Os comprimidos podem reduzir a resposta imunológica hiperativa, mas alguns podem provocar sintomas gastrointestinais. Os medicamentos injetáveis, chamados de biológicos, são altamente eficazes, mas caros, e podem tornar as pessoas um pouco mais suscetíveis a infecções, pois diminuem a atividade imunológica no corpo”, diz a médica. Mais recentemente, a fototerapia UV e os probióticos foram adicionados com sucesso na lista de tratamentos. É interessante também procurar se expor ao sol com segurança. “A exposição segura ao sol é capaz de prevenir a psoríase e aliviar os sintomas da doença, pois a radiação solar possui efeitos imunomoduladores no controle da psoríase e é fundamental para a manutenção de um sistema imunológico saudável”, explica a Dra. Paola.

Mas o médico também deve orientar o paciente a buscar ajuda psicológica e cuidar de alguns hábitos de vida. “Quando um paciente tem psoríase significativa, sei que há mais coisas acontecendo do que posso ver. Eles são mais propensos a diabetes e doenças cardiovasculares e têm maior risco de mortalidade, então fazemos um plano para tratar de todos os aspectos da doença. Também devemos pensar em seu bem-estar emocional. Quando alguns pacientes estão estressados, a psoríase piora, por isso trabalhamos no controle do estresse. Há até pesquisas que mostram que as técnicas de atenção plena, como a meditação, podem tornar as pessoas mais responsivas às terapias para psoríase”, diz a médica.

Efeitos mentais

Um dos desafios da saúde mental com doenças de pele é que são doenças observáveis. “As pessoas podem ficar olhando e isso pode fazer o paciente se sentir estigmatizado. Alguns pacientes podem esperar que as pessoas reajam negativamente, então podem decidir que não vão sair ou não podem ir à praia, piscina ou ter uma vida social”, diz a médica. A intensidade da angústia está frequentemente (mas nem sempre) ligada ao grau de gravidade da psoríase. “Uma área relativamente nova de pesquisa em dermatologia levanta a hipótese de que se você teve psoríase realmente ruim em uma idade jovem e foi socialmente isolado, isso pode afetar sua vida social mais tarde, mesmo que sua pele melhore”, diz a médica. O ideal é que a ajuda psicológica ajude o paciente a controlar o estresse e interpretar corretamente as interações sociais com as quais está lidando por causa de sua pele, o que hipoteticamente poderia fazê-lo ter mais energia mental para seguir seu plano de tratamento – que muitas vezes pode ser muito complicado e difícil. “É necessário ter empatia e dar espaço ao paciente, em um acompanhamento psicológico adequado, para falar sobre sua condição de pele e como isso afetou sua vida, o que pode ajudar a melhorar a resposta do tratamento”, diz a médica.

Bons hábitos de vida também ajudam. “É importante ter uma alimentação saudável e balanceada, aumentar a ingestão de líquidos, dormir bem e com qualidade e praticar exercícios físicos regularmente mesmo dentro de casa. Tudo isso com o intuito de trazer relaxamento, bem-estar e o controle do estresse”, finaliza a dermatologista.

Fonte:
Dra. Paola Pomerantzeff.
Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais.