Febre: uma resposta de defesa do organismo

Febre: uma resposta de defesa do organismo

A febre é uma forma de reação do organismo diante de diferentes situações ou doenças que implicam um risco. Consiste no aumento da temperatura corporal e geralmente está associada a outras manifestações corporais. Por ser um dos motivos mais comuns para a consulta médica, é interessante saber mais sobre isso

Um sintoma ou um mecanismo de defesa?

Entre os sintomas mais frequentes associados a processos infecciosos e com muitas entidades não infecciosas, existe a febre. A febre não é uma doença por si mesma, mas constitui uma resposta de defesa, especialmente em casos de agressão microbiana. Já nos tempos antigos, Hipócrates pensava que a febre era um mecanismo de defesa do organismo contra uma condição subjacente. A tradição galênica e a medieval consideraram-na como um meio para restaurar o equilíbrio entre os humores do corpo. Hoje, sabemos qual é o seu papel e os mecanismos pelos quais é produzida e, embora o aumento da temperatura corporal e os sintomas associados sejam motivo de desconforto naqueles que padecem deles, os potenciais efeitos benéficos da febre fazem com que seu tratamento seja um tema de discussão. No entanto, conforme será observado a seguir, existem circunstâncias em que o estabelecimento do tratamento da febre não gera dúvidas.

Temperatura normal vs. febre

Deve-se ter em conta que a temperatura normal do corpo em seres humanos é aquela em que os processos biológicos podem se desenvolver corretamente; em torno dos 37°C, com pequenas margens de variação. A diminuição da temperatura corporal geralmente é mais perigosa do que a febre: as pessoas expostas a condições climáticas extremas podem morrer literalmente de hipotermia. A diminuição da temperatura a valores críticos (apenas quatro graus abaixo do normal) pode parar o metabolismo e, se perpetuada ou acentuada, leva à parada cardíaca em poucos minutos.

A temperatura corporal é regulada pelo hipotálamo, uma área do cérebro que atua como um centro termorregulador corrigindo as variações térmicas ocasionais, com o objetivo de proporcionar ao corpo uma temperatura adequada para o metabolismo. Conforme mencionado anteriormente, em condições normais, a temperatura é de cerca de 37°C. O calor ambiental faz com que o hipotálamo estimule a transpiração, o ofego e o aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos (vasodilatação) dos braços e pernas para perder calor e diminuir a temperatura. Se estiver frio, haverá diminuição no diâmetro dos vasos sanguíneos periféricos (vasoconstrição) e na secura da pele, a fim de reter o calor no corpo. Dessa forma, as variações térmicas externas são amortecidas.

Como a febre é produzida?

O termo febre tem sua origem na palavra latina fovere (calor) e é definido como um aumento na temperatura corporal. Também pode ser definido como uma alteração na termorregulação, ou seja, uma elevação controlada da temperatura corporal acima dos valores considerados normais. Este aumento de temperatura é produzido por uma mudança no ponto de ajuste do centro termorregulador do hipotálamo anterior, onde a informação proveniente de diferentes sensores distribuídos por todo o corpo é processada. O hipotálamo aumenta a temperatura do corpo para um ponto mais alto em resposta a diferentes estímulos. As substâncias pirogênicas, que desencadeiam a febre, podem originar-se de dentro ou fora do corpo. Exemplos de pirógenos externos são os microrganismos e as substâncias que produzem, principalmente, toxinas.

Os pirógenos causam febre, estimulando, no organismo, a produção de pirógenos próprios (endógenos). Os pirógenos formados dentro do corpo geralmente são gerados por um tipo de leucócito chamado macrófago. A verdade é que a febre é o resultado de mecanismos complexos. Uma série de toxinas infecciosas e outros mediadores e substâncias são capazes de produzir pirógenos endógenos.
Os pirógenos causam uma cascata de eventos ao nível do hipotálamo anterior que acaba produzindo substâncias derivadas de ácido araquidônico e a secreção de prostaglandina E2 (PGE2). O último atua no centro termorregulador elevando o ponto de ajuste térmico. O corpo responde para alcançar o ajuste térmico em um ponto de temperatura mais alta no centro termorregulador do cérebro, aumentando o metabolismo, provocando calafrios, diminuindo a circulação da pele e produzindo aumento da sudoração. Este mecanismo é aquele que se desenvolve quando a febre é causada por infecções, processos inflamatórios e tumores e é sensível à ação de medicamentos antipiréticos.

Deve-se ter em conta que as variações na temperatura corporal geralmente ocorrem ao longo do dia, dentro de um intervalo de 1 a 2 ºC. Essas variações dependem de cada indivíduo e da hora do dia, registrando valores máximos ao anoitecer e mínimos ao amanhecer. O ponto mais baixo é alcançado por volta das 6 da manhã e o ponto mais alto entre 4 e 6 da tarde. Embora, geralmente, diga-se que a temperatura normal do corpo é de 37° C, o mínimo normal às seis da manhã é 37,1° C e o máximo normal às quatro da tarde será 37,7° C.

A temperatura fixada para definir a febre é a que excede os 38° C. Denomina-se febre baixa uma temperatura abaixo dos 38° C, febre moderada entre 38 e 39° C, febre alta entre 39 e 40° C e hiperpirexia a uma temperatura superior aos 40 °C. A febre pode causar, além do aumento da temperatura corporal, mal-estar, dor muscular e de cabeça e aumento do consumo de oxigênio, o que produz um aumento no trabalho do coração e dos pulmões, o que leva a um aumento na frequência cardíaca (taquicardia) e frequência respiratória (taquipneia).

O que pode causar um aumento na temperatura corporal?

A febre é um sintoma atribuível a inúmeras doenças, desde sintomas banais até episódios graves, entre os quais estão incluídos processos infecciosos, tumores, doenças reumáticas, drogas e lesões, como ataque cardíaco ou embolia, entre outros. Por outro lado, podem ser observados pequenos aumentos na temperatura corporal em condições como o exercício intenso ou calor ambiental excessivo. Na maioria dos casos, a causa da febre geralmente é descoberta, como na faringite ou gripe, mas há casos em que a causa não é tão evidente, como na infecção chamada endocardite bacteriana, que afeta sobretudo as válvulas do coração. Quando uma pessoa apresenta pelo menos 38,3° C de temperatura corporal repetidamente e a causa não pode ser estabelecida, diz-se que a febre é de origem desconhecida. Nesses casos, pode ser o resultado de qualquer condição que aumente a temperatura corporal, mas as causas mais frequentes entre adultos são infecções, doenças causadas por anticorpos gerados contra os próprios tecidos (doenças autoimunes) e tumores (leucemia ou linfoma). Também pode ser uma consequência de um processo inflamatório ou de uma reação alérgica.

Como a temperatura do corpo é medida?

Em adultos, para determinar a temperatura, é necessário usar um instrumento preciso, como o termômetro, e, em geral, por ser um local acessível, a temperatura axilar é medida, embora a retal seja a mais próxima da temperatura do núcleo. Existem diferentes tipos de termômetros: mercúrio, vidro, digital. A axila deve estar seca, a pessoa deve estar em repouso, não deve estar muito agasalhada ou estar em um ambiente excessivamente quente. Uma vez colocado, o termômetro deve permanecer na axila entre 3 e 5 minutos, se for um termômetro de vidro ou mercúrio. A temperatura axilar tem as desvantagens de ser um método amplamente variável que pode ser interferido por condições de pele e possíveis erros na medição, por exemplo, a colocação inadequada do termômetro.