Fatores essenciais para a saúde cardiovascular

Lista inclui dieta, atividade física, exposição à nicotina, índice de massa corporal, colesterol, glicemia e pressão arterial

duração do sono é agora considerada um componente essencial para a saúde ideal do coração e do cérebro. Composta agora por 8 itens, a lista de fatores essenciais para a saúde cardiovascular, da Americana Heart Association, sofreu algumas atualizações em artigo revisado por pares e publicado na Circulation, principal periódico da Associação. “Agora chamada Life’s Essential 8™, a métrica sugere de 7 a 9 horas diárias de sono para uma saúde cardiovascular ideal para adultos e mais para crianças, dependendo da idade. A lista para a boa saúde cardiovascular inclui dieta, atividade física, exposição à nicotina, índice de massa corporal, colesterol, glicemia e pressão arterial. Importante lembrar que evitar doenças cardiovasculares e ter bons hábitos de vida influencia também no bom funcionamento de diversos órgãos, como os rins, que são altamente dependentes de uma boa saúde cardiovascular”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva, pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, e em Clínica Médica/Medicina Interna.

A médica, que integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destaca que a doença cardiovascular é a causa número um de mortes no mundo. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 1 em cada 4 brasileiros tem obesidade e de acordo com dados da Biblioteca Virtual de Saúde, do Ministério da Saúde, o Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos. “Vários estudos de pesquisa nas últimas duas décadas indicam que mais de 80% de todos os eventos cardiovasculares podem ser evitados por estilo de vida saudável e gerenciamento de fatores de risco cardiovascular conhecidos, como controle do peso, da pressão alta e da diabetes”, explica a médica.

A métrica da duração do sono reflete as últimas descobertas da pesquisa: o sono afeta a saúde geral e as pessoas que têm padrões de sono mais saudáveis gerenciam fatores de saúde como peso, pressão arterial ou risco de diabetes tipo 2 de forma mais eficaz, segundo a médica. “Além disso, os avanços nas formas de medir o sono, como dispositivos móveis e aplicativos e celulares, agora oferecem às pessoas a capacidade de monitorar de forma confiável e rotineira seus hábitos de sono em casa”, diz a médica, que explica abaixo os oito itens (Life’s Essential 8™):

Dieta: no nível populacional, a avaliação dietética é baseada na ingestão diária de elementos do padrão alimentar Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH). “A pontuação da dieta no estilo DASH tem oito componentes: alta ingestão de frutas, vegetais, nozes e legumes, grãos integrais, laticínios com baixo teor de gordura e baixa ingestão de sódio, carnes vermelhas e processadas e bebidas açucaradas”, diz a médica.

Atividade física: a atividade é medida pelo número total de minutos de atividade física moderada ou vigorosa por semana. “O nível ideal é 150 minutos de atividade física moderada ou mais por semana ou 75 minutos por semana de atividade física de intensidade vigorosa para adultos; 420 minutos ou mais por semana para crianças de 6 anos ou mais; e modificações específicas da idade para crianças mais novas”, conta a Dra. Caroline.

Exposição à nicotina: o uso de sistemas de entrega de nicotina inalada, que inclui cigarros eletrônicos ou dispositivos vaping, é adicionado na lista, pois a métrica anterior monitorava apenas os cigarros combustíveis tradicionais. “Isso reflete o uso por adultos e jovens e suas implicações na saúde a longo prazo. A exposição ao fumo passivo para crianças e adultos também é altamente prejudicial e foi adicionada à lista”, diz a médica.

Duração do sono: a duração do sono está associada à saúde cardiovascular. “Medido pela média de horas de sono por noite, o nível ideal é de 7 a 9 horas diárias para adultos. Os intervalos de sono diário ideais para crianças são de 10 a 16 horas por 24 horas para crianças de 5 anos ou menos; 9 a 12 horas para idades de 6 a 12 anos; e 8 a 10 horas para idades de 13 a 18 anos”, conta.

Índice de massa corporal: não é só a dieta que tem relação com a saúde cardiovascular, mas também o índice de massa corporal (IMC), uma métrica imperfeita, mas facilmente calculada e amplamente disponível. “Portanto, o IMC continua como um indicador razoável para avaliar as categorias de peso que podem levar a problemas de saúde. O IMC de 18,5 a 24,9 está associado aos mais altos níveis de saúde cardiovascular. As faixas de IMC e os riscos de saúde subsequentes associados a elas podem diferir entre pessoas de diversas origens raciais ou étnicas ou ascendência”, explica.

Lipídios do sangue: a métrica para lipídios do sangue (colesterol e triglicerídeos) é atualizada para usar o colesterol não HDL como o número preferencial para monitorar, em vez do colesterol total. “HDL é o colesterol ‘bom’. Outras formas de colesterol, quando altas, estão ligadas ao risco de doenças cardiovasculares. Essa mudança é feita porque o colesterol não HDL pode ser medido sem jejum prévio (aumentando assim sua disponibilidade a qualquer hora do dia e implementação em mais consultas) e calculado de forma confiável entre todas as pessoas”, diz a médica.

Glicemia: essa métrica é expandida para incluir a opção de leituras de hemoglobina A1c (glicada) ou níveis de glicose no sangue para pessoas com ou sem diabetes tipo 1 ou tipo 2 ou pré-diabetes. “A hemoglobina glicada pode refletir melhor o controle glicêmico a longo prazo”, diz a médica.

Pressão arterial: os critérios de pressão arterial permanecem inalterados em relação às diretrizes anteriores que estabeleceram níveis inferiores a 120/80 mm Hg como ideais e hipertensão definida como pressão sistólica de 130-139 mm Hg (o número mais alto em uma leitura) ou pressão diastólica de 80-89 mm Hg (número inferior).

Por fim, a médica lembra que o Life’s Essential 8™ é um grande passo na capacidade de identificar quando a saúde cardiovascular pode ser preservada e quando está abaixo do ideal. “Devemos somar esforços para melhorar a saúde cardiovascular para todas as pessoas e em todas as fases da vida e esse guia é um bom referencial para isso”, finaliza a médica intensivista.

Fonte: Dra. Caroline Reigada. Médica nefrologista. Especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro. Participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.