Cálculos para dispensação de medicamentos
Frequentemente chega no balcão da farmácia receitas médicas para as quais devemos realizar cálculos a fim de determinar a quantidade a ser administrada ou dispensada.
O farmacêutico e o balconista precisam ter noções de matemática para executar diversas tarefas relacionadas à dispensação de medicamentos, como orientar ao paciente a dose necessária de determinado medicamento, a quantidade de caixas ou frascos que precisam ser dispensados para atender o tratamento total, dentre outros, para tanto, é imprescindível conhecer as unidades de medidas, as expressões que representam a concentração ou dosagem do medicamento, além da habilidade de saber executar os cálculos necessários para uma dispensação que contemple o uso racional de medicamentos.
Situações na prática que requerem utilização de cálculos
Existem pelo menos duas situações na dispensação, em que podem ser necessárias aplicar cálculos, uma é durante a indicação farmacêutica e a outra é durante o aviamento de uma prescrição.
No primeiro caso, a indicação de um medicamento deve estar em consonância com o âmbito de atuação do farmacêutico, restringindo-se aos medicamentos incluídos na Lista de Grupos e Indicações Terapêuticas Especificadas (GITE) para tratar as condições de saúde autolimitantes, cujo manejo deve seguir as recomendações em bula, evidências científicas, protocolos clínicos e/ou diretrizes terapêuticas. Os cálculos a serem utilizados nesse contexto, são para definição de dosagem ou concentração e para descobrir a quantidade de medicamento necessária para atender o tratamento completo.
Atendimento da prescrição
No segundo caso, os cálculos ajudam a identificar a quantidade de embalagens necessárias para atender o tratamento prescrito. Ao receber uma prescrição na farmácia, algumas informações devem ser consideradas antes que o cálculo seja iniciado, são elas:
a) Paciente: verificar se a pessoa que vai utilizar o medicamento é adulto, criança ou idoso;
b) Dosagem ou concentração do medicamento: observar a unidade de medida utilizada, que pode estar expressa em grama (g), miligramas, (mg), micrograma (mcg), unidades internacionais (UI) para forma farmacêutica sólida ou expressa em porcentagem (%), miligramas por mililitros (mg/ml), unidades internacionais por mililitros (UI/ml), para as formas farmacêuticas líquidas;
c) Posologia: avaliar o modo de administrar o medicamento, quantidade de doses necessárias por dia e o tempo de tratamento.
Após a análise da prescrição, o profissional deve verificar na embalagem do medicamento se a dosagem ou concentração corresponde ao prescrito, a quantidade de medicamento dentro de cada embalagem e, finalmente, aplicar os cálculos.
É válido lembrar que alguns medicamentos estão sujeitos a normas sanitárias específicas ou incluídas em programas de dispensação que restringem o tempo de tratamento que pode ser dispensado, como por exemplo, o Programa Farmácia Popular, para essas situações deve-se considerar as regras vigentes.
Objetivos dos cálculos farmacêuticos
Durante a dispensação, as duas principais finalidades de realizar os cálculos farmacêuticos são:
1º Descobrir a dose do medicamento que deverá ser administrada (podendo ser o volume de medicamentos para pegar no copo dosador ou seringa dosadora, a quantidade de gotas necessárias ou quantidade de comprimidos necessários);
2º Descobrir a quantidade de embalagens necessárias para atender o tratamento total.
A regra de três é um dos cálculos mais utilizados nessas situações. A seguir, apresentaremos alguns exemplos de cálculos para fins didáticos. (Obs.: as informações utilizadas nos exemplos não retratam fielmente uma prescrição).
Cálculo para dispensação de forma farmacêutica sólida:
Neste exemplo, observamos na caixa da isotretinoína que cada cápsula tem 20 mg. O paciente precisa tomar 40mg, portanto, 2 cápsulas em cada dose, descoberto isso, realizamos o cálculo para determinar a quantidade de embalagens necessárias, por meio do qual obtemos que o paciente irá precisar de 4 caixas, com 30 cápsulas cada, para o tratamento de 30 dias.
Cálculo para dispensação de forma farmacêutica líquida:
Para formas farmacêuticas líquidas, como soluções, suspensões e xaropes, por exemplo, o objetivo inicial é determinar o volume a ser administrado por dose. Neste exemplo, precisamos descobrir quantos mililitros de amoxicilina precisam ser administrados, para tanto, é preciso observar a concentração na embalagem, que é de 250mg/5mL, assim, temos que cada 5mL tem 250mg, portanto, aplicando a regra de três, descobrimos a dose de 500mg corresponde a 10 ml. O paciente deve tomar 10 ml de amoxicilina, de 8 em 8 horas, ou seja, 3 vezes ao dia por 7 dias, devemos multiplicar esses valores, obtendo que serão necessários 210mL. Sabendo que cada embalagem contém 150mL, serão necessários 2 frascos de amoxicilina.
Cálculo envolvendo gotas
Neste exemplo, a dose já está expressa em gotas, dessa forma precisamos descobrir apenas quantos frascos dispensar para o tratamento de 60 dias. A embalagem do clonazepam informa que cada mililitro da solução oral contém 25 gotas, o tratamento completo requer 900 gotas, portanto, após os cálculos encontramos que serão necessários 2 frascos.
Cálculo envolvendo porcentagem
Na prescrição de levomepromazina, temos que a concentração de 4% equivale a 4g por 100mL. É preciso realizar a conversão da massa em grama para massa em miligrama, em seguida, encontrar o volume por dose e a partir disso, descobrir quantas gotas administrar e quantos frascos dispensar. Após os cálculos, descobrimos que será necessário dispensar 5 frascos para o tratamento de 30 dias e o paciente deve tomar 15 gotas por dose.
Cálculo envolvendo peso
O cálculo envolvendo peso pode estar presente tanto para formas farmacêuticas sólidas, quanto para líquidas. Nesse exemplo temos que uma criança de 10 Kg deverá tomar 25 mg de amoxicilina para cada quilo, dessa forma obtemos que será necessário 250 mg.
Como o medicamento prescrito se apresenta sob a forma de suspensão, será necessário descobrir o volume necessário para administrar em cada dose, assim, obtemos que será necessário administrar 2,5 ml por dose.
Posteriormente, identificamos que será preciso apenas 50mL para atender o tratamento total, sendo necessário apenas 1 frasco, visto que a embalagem contém 150 ml.
Estabilidade do medicamento após reconstituição ou após aberto
A título de conhecimento, se a estabilidade dessa apresentação fosse de 7 dias, seriam necessários 2 frascos e nesse contexto, o paciente deve ser orientado a administrar o primeiro frasco por 7 dias, desprezando o excedente e só então, reconstituir o segundo frasco para dar continuidade aos 3 dias restantes de tratamento.
Dicas para a realização dos cálculos
• As informações pertinentes estarão na prescrição médica e na embalagem do medicamento ou ainda, na bula;
• Durante a montagem da regra de três, agrupe as grandezas da mesma espécie em colunas, identificando as unidades de medidas;
• É importante conhecer as unidades de massa e volume usuais e saber realizar a conversão das unidades de medida;
• Para medicamentos, cujas concentrações estão expressos em porcentagem, considerar sempre a relação de gramas por cem mililitros (g/100mL);
• Se o cálculo envolver gotas, deve-se considerar a relação de proporção, de gotas contidas em cada mililitros (gotas/ml), descritos na embalagem ou bula do medicamento. Quando essa informação não estiver presente, pode-se usar a relação geral de que cada mililitro contém 20 gotas;
• Se o cálculo envolver peso, resolva-o primeiro;
• Para descobrir a quantidade de embalagens necessárias, basta multiplicar a dose pela quantidade de vezes que o medicamento deverá ser tomado ao dia e multiplicar pelo número total de dias do tratamento, posteriormente, aplicar o resultado obtido juntamente com a proporção de quantidades presentes em cada embalagem e por meio da regra de três, determinar a quantidade de embalagens necessárias para atender o tratamento completo;
• Alguns medicamentos apresentam um tempo determinado de estabilidade após reconstituição ou após aberto, devendo desprezar o excedente após esse prazo, diante disso, deve-se sempre consultar na embalagem ou bula essa informação e ajustar a quantidade a ser dispensada, se necessário.
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Por Thalita Lima | CRF-SP 85219
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