Estudo global alerta para a falta de conhecimento das mulheres sobre contracepção de longa duração

Estudo global alerta para a falta de conhecimento das mulheres sobre contracepção de longa duração

Os métodos contraceptivos de longa duração ainda são pouco ou nada conhecidos por muitas mulheres. Isso é o que aponta um estudo global realizado pela Bayer, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o TANCO – Think about Needs in Contraception (Pensando nas Necessidades em Contracepção, em português). A pesquisa, que envolveu mais de 7 mil pacientes e 726 ginecologistas de 11 países da Europa, além do Brasil, buscou, entre outras coisas, identificar a relação das mulheres com os métodos contraceptivos.

A maioria das entrevistadas com a idade entre 18 e 29 anos não planejam ter filhos nos próximos 3 a 5 anos ou não pretendem ter filhos, enquanto a maior parte das que estão entre 40 e 49 anos disseram que já completaram o planejamento familiar. Ou seja: dois cenários em que a contracepção de longa duração é mais indicada. Apesar disso, as taxas de uso desses métodos ainda são significativamente baixas. No Brasil, por exemplo, apenas 10% das entrevistadas os utilizam.

Já os dados globais mostram que apenas 6% têm experiência com o DIU hormonal – apesar de ter apresentado, dentre todos os métodos, a maior taxa de mulheres altamente satisfeitas. Em paralelo, de acordo com o estudo, 1 em cada 10 mulheres está utilizando apenas preservativo para evitar a gravidez, enquanto 3 em cada 10 estão tomando pílulas combinadas.

“A baixa adesão das mulheres aos métodos de longa duração tem relação direta com a falta de informação sobre o tema – prova disso é que quase 70% das participantes do TANCO afirmaram que considerariam o contraceptivo de longa duração se recebessem mais informações de seus médicos. Ou seja: nota-se uma falha de comunicação que precisa ser reparada para que as mulheres façam a melhor escolha de acordo com sua realidade”, explica Dra. Ilza Monteiro, ginecologista da UNICAMP e membro da diretoria da Febrasgo, que é uma das autoras do estudo.

Para evitar a gravidez por longos períodos

“Os métodos de longa duração apresentam, na vida real, elevada eficácia em prevenir a gravidez por um período prolongado – até 3, 5 ou 10 anos. Além disso, não exigem que a mulher se lembre de tomá-los para fazerem efeito e são reversíveis, ou seja, ao parar de usá-los, é possível engravidar tão rápido quanto outras mulheres que não utilizaram nenhum método previamente”, conta a médica.

Existem três contraceptivos que se enquadram nessa definição: o DIU hormonal (SIU – Sistema Intrauterino), DIU de cobre e implante hormonal. Tanto o DIU hormonal como o DIU de cobre são pequenos dispositivos em forma de T, inseridos no útero. Já o implante fica logo abaixo da pele, na parte superior do braço. Todos devem ser colocados por um profissional de saúde e apresentam os maiores índices de eficácia.

A diferença entre os DIUs está no modo como funcionam. O DIU hormonal libera uma dose baixa de progesterona no útero de forma contínua, tornando o muco do colo uterino espesso, o que dificulta o encontro do espermatozoide com o óvulo. Além disso, afina a parede do útero, o que provoca uma diminuição da quantidade de volume menstrual perdido pela mulher. Permanece no lugar por até 5 anos ou até a mulher decidir retirá-lo. “É indicado para as mulheres que além de desejarem uma contracepção altamente eficaz desejam reduzir o volume menstrual”, explica.

Já o DIU de cobre libera íons de cobre no útero, que imobilizam o espermatozoide e dificultam sua mobilidade em torno da região, mas não impedem os ovários de liberarem um óvulo por mês. Após a colocação, o método pode permanecer no lugar por até 5 ou 10 anos, dependendo do tipo.

Por fim, o implante, por meio de um reservatório, libera continuamente na corrente sanguínea o hormônio progesterona em pequenas doses, que por sua vez impede os ovários de liberarem óvulos, mas também torna o muco cervical mais espesso. “De qualquer forma, antes de se decidir pelo uso de qualquer um desses métodos, é importante consultar um profissional de saúde para o aconselhamento adequado”, destaca Dra. Ilza.

 Mais conhecimento e segurança para as pacientes

A baixa adesão aos métodos de longa duração mostra que as mulheres ainda têm pouco conhecimento sobre o universo da contracepção. “Além dos benefícios apresentados pelos métodos de longa duração, como a eficácia, conforto e segurança, há também um impacto financeiro importante, já que as mulheres não precisariam gastar todo mês com um método de curto prazo – tanto o DIU hormonal como o de cobre são cobertos pelos planos de saúde e, o DIU de cobre está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).”

Outra questão que vale ser lembrada é a gravidez não planejada, principalmente na adolescência – um problema sério que está presente no mundo todo. Segundo a Organização das Nações Unidas, a América Latina, junto ao Caribe, é a sub-região com a segunda maior taxa de gravidez adolescente no mundo, e dentro dessa região, a taxa do Brasil é mais alta que a média.

E as consequências não se limitam à mudança de rotina da mãe e da família em si – de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o acontecimento é associado a uma maior propensão à pobreza, maior taxa de desemprego ou menores salários e menor nível educacional em comparação com as jovens que não engravidaram. Além disso, filhos de mães adolescentes tem maior propensão a se tornarem pais adolescentes e perpetuar o ciclo de disparidade.

“Os métodos de longa duração costumam ser a primeira opção indicada pelo profissional de saúde para as adolescentes, tendo em vista que nessa fase a gravidez não deve acontecer num curto prazo. Esses contraceptivos também oferecem mais segurança e eficácia, e alguns tipos podem inclusive contribuir com a diminuição do fluxo menstrual, um benefício a mais, visto que muitas adolescentes se queixam de menstruar muito”.

Contraceptivos de emergência: excesso no uso

Os índices do uso de contraceptivos de emergência, conhecidos como “pílula do dia seguinte”, apresentados pelo estudo também chamam a atenção. Segundo o TANCO, o Brasil é um dos países com maior número de uso de contraceptivos de emergência em comparação com a média global – 51% das brasileiras já utilizaram o método pelo menos uma vez na vida.

De acordo com a pesquisa, a pílula combinada é o método mais usado pelas brasileiras. “Porém, o uso de contraceptivos de emergência mostra que muitas dessas mulheres não estão tomando o anticoncepcional de forma adequada – muito provavelmente porque, como acontece em todo o mundo e com homens e mulheres, é comum o esquecimento de medicamentos de uso diário, como a pílula. Para que o anticoncepcional funcione bem é necessária a tomada diária e, preferencialmente, no mesmo horário”, pontua a Dra. Ilza.

Com isso, será que não é o caso dessas mulheres começarem a considerar os métodos de longa duração, que não precisam ser lembrados? “Assim, os riscos são muito menores e não precisam mais se submeter a métodos de emergência, que dependem de um período mais restrito, falham quando utilizados com muita frequência no mesmo mês e não são recomendados para tomada de rotina”.

Importância da comunicação transparente no consultório

O TANCO também buscou avaliar como os ginecologistas enxergam seu papel no consultório no momento de orientar as pacientes sobre métodos contraceptivos versus a percepção delas, e os resultados apontam que enquanto a maioria das mulheres acreditam que são elas que costumam tomar a iniciativa para começar a conversa sobre o assunto, os médicos, por sua vez, dizem que a atitude parte deles.

Consequentemente, a maioria das mulheres não se sentem suficientemente informadas sobre os métodos disponíveis, enquanto a maioria dos médicos acredita no contrário. “Isso mostra uma falha de comunicação que influencia diretamente na escolha do método ideal para cada perfil”, destaca a ginecologista.

Por isso, é importante que, no consultório, mulheres levem ao ginecologista todas as informações necessárias sobre o que buscam, seu planejamento familiar, características pessoais, preocupações entre outros, enquanto o profissional deve explicar sobre cada método disponível e indicar o mais adequado para seu perfil. A informação é a ferramenta mais importante para que as mulheres entendam o que é melhor para elas.

Fonte: Bayer