Acidez estomacal
A acidez é a sensação de queimação e incômodo no estômago. Suas causas variam, por isso é interessante saber como tratar adequadamente
A acidez é uma sensação de queimação na área do estômago; muitas pessoas a descrevem como uma queimação na região que está exatamente abaixo do esterno, onde está localizada a união entre o estômago e o esôfago. Normalmente esse incômodo ocorre depois de comer uma grande quantidade de alimentos ou ao deitar-se e pode durar por alguns minutos até algumas horas.
A acidez é um sintoma muito frequente e, na verdade, ocorre quando o ácido clorídrico produzido pelo estômago entra em contato com o esôfago, que está localizado mais para cima, provocando sua irritação e inflamação.
Quando uma pessoa come, o alimento passa pela boca até o esôfago, que é um tubo que leva a comida ao estômago. Para entrar no estômago o alimento deve atravessar a união entre ele e o esôfago. Essa união, denominada esfíncter, age como uma porta que permite que o alimento passe pelo estômago e não retorne, semelhante a um mecanismo valvular. Por esse motivo, o esfíncter fecha enquanto o alimento o atravessa, impedindo que volte. Se o esfíncter não fecha, o ácido do estômago sobe até o esôfago. Esse retorno do conteúdo gástrico (alimento ou ácido clorídrico) denomina-se refluxo gastroesofágico.
O ácido do estômago que reiteradamente volte ao esôfago pode irritá-lo de forma progressiva e ocasionar não somente sensação de acidez, mas também inflamação crônica e complicações mais importantes se não tratadas a tempo. Outras causas da acidez erradicam no próprio estômago e podem ser devido a uma secreção exagerada de ácido ou a uma menor tolerância a ele dentro do mesmo estômago. A gastrite e a úlcera gástrica também podem se manifestar pela acidez. Estes casos costumam estar acompanhados de outros sintomas que levam o médico ao diagnóstico.
Como o organismo evita o refluxo?
O chamado esfíncter esofágico inferior (EEI) é o principal obstáculo para que o conteúdo do estômago retorne ao esôfago. Não é um esfíncter propriamente dito, e sim uma área de alta pressão na união gastroesofágica que age como uma “barreira”, comportando-se como uma válvula. Em cada inspiração a pressão no tórax é mais negativa, enquanto no abdômen é mais positiva, obstruindo o segmento esofágico localizado embaixo do diafragma e se opondo ao refluxo. Essa área de alta pressão considerada um EEI se estende por 3 ou 4 cm. Embora o EEI cumpra um papel preponderante, existem outros mecanismos fisiológicos que impedem que o conteúdo do estômago retorne para o esôfago. A angulação aguda da união gastroesofágica (ângulo de His) e a disposição do diafragma, entre outros, são os fatores anatômicos não esfincterianos que foram propostos como impedimentos ao refluxo.
Fatores que favorecem o desenvolvimento de refluxo e acidez
Existem pessoas especialmente predispostas a sofrer de refluxo e acidez, ou por apresentarem um esfíncter esofágico fraco ou por outras alterações anatômicas, como a hérnia de hiato. A hérnia de hiato é uma condição em que uma parte do estômago é empurrada para cima pelo diafragma e até o peito. Às vezes isso pode ocasionar acidez, embora, em muitos casos, ela possa ser assintomática. Entretanto, em algumas pessoas a acidez origina-se de diferentes fatores externos, tais como o estresse, o sobrepeso, determinados alimentos e alguns medicamentos.
O sobrepeso ou quaisquer outras situações que aumentem o volume do abdômen (como a gravidez) geram um aumento de pressão no diafragma e em tudo encontrado sobre ele, como o esôfago, ocasionando a acidez.
Muitos alimentos também favorecem o refluxo gastroesofágico, como o álcool, o café, o mate, o chá, as bebidas que contêm cola e os refrigerantes em geral, o chocolate, os sucos e as frutas cítricas, o tomate e os molhos de tomate, os alimentos muito condimentados e as gorduras em geral. O cigarro é um fator importante que favorece o desenvolvimento de refluxo e acidez, uma vez que a fumaça do cigarro contém agentes químicos que enfraquecem o esfíncter esofágico inferior. Entre os medicamentos, como o ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios, existem alguns que enfraquecem o esfíncter e outros que aumentam a acidez. Qualquer uma dessas opções pode favorecer o surgimento desse sintoma.
Manifestações do refluxo gastroesofágico
A acidez está presente em 80% a 95% dos casos de refluxo. Essa sensação, descrita como uma queimação ou dor que queima, costuma muitas vezes estar associada, em alguns casos, à presença de regurgitações ácidas (percepção de ácido na área da garganta). Outros sintomas menos frequentes associados à acidez são os arrotos, as náuseas, os vômitos e, inclusive, a disfonia.
Medidas para evitar a acidez e o refluxo
Frequentemente o refluxo se apresentará com menos frequência ou desaparecerá completamente depois da realização de mudanças simples na vida diária. Colocar em prática os conselhos a seguir costuma ajudar a evitar a acidez e outros sintomas relacionados ao refluxo gastroesofágico.
Primeiramente, deve-se evitar os alimentos e as bebidas que possam desencadear o refluxo, por exemplo: álcool, café, mate, chá, cola e outras bebidas que contenham cafeína e que sejam gaseificadas, chocolate, sucos e frutas cítricas, tomates e molhos de tomate, alimentos condimentados e gordurosos (incluindo os produtos lácteos ricos em gordura). Sendo assim, recomenda-se modificar os hábitos alimentares:
Ingerir porções pequenas, visto que um estômago cheio exerce uma pressão extra sobre o esfíncter esofágico, aumentando assim a possibilidade de que o alimento retorne ao esôfago.
Evitar comer ou deitar-se 2 ou 3 horas antes de dormir. Deitar-se com o estômago cheio faz com que o conteúdo exerça mais pressão sobre o esfíncter esofágico, aumentando a probabilidade de que o alimento retorne.
Evitar agachar-se ou praticar atividade física imediatamente depois de comer. Recomenda-se levantar os objetos com a parte superior do corpo erguida e os joelhos dobrados. Ingerir muito líquido, especialmente ao tomar medicamentos.
Da mesma forma, é aconselhável fazer outras mudanças no estilo de vida de acordo com a sua necessidade em particular:
Emagrecer, se existe sobrepeso ou obesidade; o aumento da pressão abdominal favorece o retorno do conteúdo do estômago ao esôfago. Em alguns casos, os sintomas do refluxo gastroesofágico desaparecem completamente quando uma pessoa com sobrepeso chega a um peso saudável.
Abandonar o hábito de fumar, uma vez que a fumaça do cigarro contém agentes químicos que enfraquecem o esfíncter esofágico inferior.
Dormir com a cabeça levantada a uns 15 cm, uma vez que, quando dormimos com a cabeça em um nível mais alto que o estômago, a possibilidade de que os alimentos ingeridos parcialmente retornem ao esôfago é menor. Na prática, é aconselhável colocar livros, tijolos ou blocos debaixo dos pés da cama na parte da cabeceira ou colocar uma almofada na forma de cunha debaixo do colchão. Por outro lado, dormir com almofadas extras não é uma medida que alivia o refluxo ou a acidez. Evitar o uso de cintos apertados e vestimentas ao redor da cintura, pois apertam o estômago e favorecem a acidez.
Reduzir o estresse, visto que está provado que pode piorar os sintomas. Para muitas pessoas, mudar o estilo de vida faz uma grande diferença no alívio da acidez.
Quando é necessário um tratamento com medicamentos para acidez ou refluxo?
Nos casos em que não se obtém o completo alívio dos sintomas com a aplicação das medidas anteriormente descritas ou mediante casos de esofagite (inflamação esofágica constatada), costuma-se utilizar medicamentos para ajudar o paciente.
Para pacientes com grau leve de esofagite e acidez manifestada, o uso de antiácidos pode ser útil. Eles contêm tipos diferentes de sais que neutralizam a ação do ácido que retorna do estômago e evitam que o esôfago seja prejudicado. Os alginatos são outro tipo de substância que forma um gel viscoso que se acumula na parte superior do estômago, opondo-se ao retorno do conteúdo gástrico; também podem ser suficientes para aliviar a sintomatologia do refluxo. Quando a resposta a esse tipo de medida não é adequada, pode-se indicar o emprego de pro-cinéticos, substâncias que aumentam o tono do EEI e aceleram o esvaziamento gástrico. Estão disponíveis também antissecretores gástricos, como os antagonistas dos receptores H2. Esses medicamentos bloqueiam a secreção do ácido clorídrico, pois diminuem a quantidade de ácido no estômago.
Outro tipo de medicamento antissecretor de grande utilidade são os inibidores da bomba de prótons. A decisão sobre qual tipo de medicamento tomar e quando tomá-lo deve ser tomada por um médico e depende em grande parte do tempo de evolução da doença, da repercussão que ela tem sobre a saúde e da qualidade de vida do paciente.