Cuidado com as torções
Entorses são lesões que geralmente aparecem como consequência de um movimento violento, uma torção e até mesmo alongamento excessivo. Embora as torções tenham um bom prognóstico, as entorses causam dor e uma diminuição temporária da mobilidade dessa articulação
A prática esportiva é uma atividade com amplos benefícios para o organismo: melhora o tônus musculoesquelético, a resistência física e a capacidade cardiovascular. Ao mesmo tempo, porém, expõe o corpo à possibilidade de lesões físicas em músculos, ossos e articulações. Assim, é comum a ocorrência de diferentes traumas articulares, principalmente em atletas profissionais, que apresentam dor e inflamação articular. Contudo, as lesões musculoesqueléticas são mais frequentes na adolescência, pois os ossos são mais porosos e suas extremidades ainda não estão ossificadas nessa fase da vida porque possuem cartilagem de crescimento. Embora, em certas ocasiões, órgãos como cérebro, pulmões e baço possam ser lesionados por trauma, o aparelho locomotor é o mais propenso a lesões, principalmente em esportes em que os participantes têm contato físico direto (esportes de contato).
As entorses na prática esportiva
As entorses ou torções são lesões do ligamento (o tecido que conecta dois ou mais ossos de uma articulação) resultantes de distensão ou rompimento. Os tornozelos, os joelhos e os punhos são as articulações mais frequentemente afetadas por esse tipo de lesões, embora possam ocorrer em qualquer outra articulação do corpo. É uma das lesões mais frequentes na prática esportiva e geralmente ocorre quando um movimento supera a resistência dos ligamentos que a reforçam, além do normal da articulação. As entorses podem ser de intensidade e dano mínimos, ou podem levar à ruptura completa de um ligamento. A distensão de ligamento ou tendão causa inchaço na área afetada, dor e impotência funcional; ao passo que, se houver ruptura desses elementos, ocorre a falha nos mecanismos normais de fixação da articulação, o que gera instabilidade e deterioração ou impossibilidade de seu uso.
As entorses leves ou moderadas são muito mais frequentes. Elas produzem um quadro de dor e inflamação com um certo grau de incapacidade funcional, entendendo-se por tal a dificuldade de mover o membro comprometido. No caso de uma ruptura completa do ligamento, os sintomas são muito mais chamativos e requerem a atenção de um médico especialista, que avaliará a necessidade de reparo cirúrgico. Qualquer esporte que envolva elevação repetitiva dos braços acima do ombro (vôlei, beisebol, natação) pode causar distensão e ruptura dos tendões musculares do ombro ao longo do tempo. O tornozelo é uma região frequente de entorse devido a quedas na face lateral externa do pé, ao jogar vôlei, basquete ou futebol, entre outros; a entorse no punho, por sua vez, pode ocorrer ao cair sobre a mão.
A entorse do tornozelo
Constitui uma das lesões articulares observadas com maior frequência na prática esportiva, correspondendo a 38% ou 45% do total de lesões. Além disso, é a condição que mais frequentemente prejudica o tornozelo (85% das lesões no tornozelo são entorses). O complexo ligamentar lateral é o mais afetado, sendo a maioria das entorses causada por inversão do pé (rotação interna do pé). A metade das pessoas tem recorrência desse tipo de lesão.
No geral, a entorse da articulação do tornozelo apresenta dor intensa na área e com o aparecimento repentino de inflamação. Se houver comprometimento dos nervos e vasos, em geral a pessoa sentirá uma sensação de pés frios ou alterações na sensibilidade (formigamentos). Além disso, observa-se deformidade na área e inchaço. A capacidade de suportar o peso sobre o tornozelo ou de caminhar é um bom determinante da gravidade: se a pessoa puder caminhar sem dor intensa, é improvável que haja uma fratura ou instabilidade da articulação.
Uma entorse do tornozelo pode ser classificada em três graus, conforme apropriado. O grau 1 envolve as entorses acompanhadas de inflamação leve e estruturas ligamentares distendidas. Podem suportar peso. O grau 2 envolve as lesões acompanhadas por inflamação moderada e uma ruptura incompleta dos ligamentos. Pode haver instabilidade leve, bem como dor ao suportar peso. O grau 3 é caracterizado por uma lesão com inflamação importante, com ruptura de pelo menos uma estrutura ligamentar, podendo haver instabilidade. No geral, o diagnóstico é feito através do exame da articulação e do interrogatório do paciente. As radiografias nem sempre são necessárias, embora existam situações em que são recomendadas, especialmente quando uma protuberância óssea anormal é palpada na área comprometida ou quando é impossível suportar o peso com a articulação (possível fratura). Em alguns casos, a tomografia computadorizada é útil, especialmente quando é necessário observar tecidos moles ou lesões complexas, enquanto a ressonância magnética pode ajudar no diagnóstico de outras doenças (como osteocondrose) nos pacientes com histórico de entorses de tornozelo recorrentes e dor crônica. A artroscopia pode ser usada para diagnóstico e terapia em algumas condições crônicas do tornozelo que predispõem a entorses. No geral, a maioria das entorses de tornozelo evoluem favoravelmente, embora aquelas de grau 3 em que há ruptura do ligamento possam persistir com sintomas ou instabilidade da articulação. Em termos gerais, as complicações não são frequentes, mas se a dor persistir, apesar da reabilitação, deve-se considerar outros diagnósticos, tais como instabilidade lateral crônica do tornozelo, o que costuma vir acompanhada de uma sensação de instabilidade por parte do paciente; subluxação dos tendões fibulares; as fraturas de qualquer osso que compõe a articulação do tornozelo e síndrome da dor regional complexa, de causa desconhecida, e que causa dor, sintomas musculoesqueléticos e cutâneos no tornozelo e no pé.
Quando o médico deve ser consultado?
Quando ocorre uma entorse, considera-se razoável realizar uma consulta médica nas seguintes situações: quando a dor é muito intensa e o peso não pode ser suportado na articulação; quando a área que cobre a lesão está muito inchada ao toque; quando a articulação não pode se mover; quando não é possível dar mais de quatro passos sem sofrer dor significativa; quando houver dormência em algum lugar na área lesionada; se houver uma protuberância na área ou houver vermelhidão e ela se estender a partir da área lesionada; quando a área sofreu lesões várias vezes; se houver dor, inchaço ou vermelhidão em qualquer superfície óssea do pé e quando houver dúvida sobre a seriedade da lesão e como tratá-la.
Tratamento das entorses
No tratamento das entorses, o principal objetivo é reduzir a dor e o inchaço durante os primeiros dias. Portanto, a área lesionada deve ser mantida em repouso e, se possível, elevada. Se o tornozelo ou o joelho estiver lesionado, muletas ou uma bengala podem ser utilizadas para impedir que a articulação carregue o peso do corpo. A aplicação de gelo permite desinflamar e, consequentemente, aliviar a dor de origem inflamatória. O gelo produz uma vasoconstrição local (ou seja, o fechamento dos vasos sanguíneos nessa área), que resulta em uma menor chegada de células e substâncias inflamatórias nessa região, uma vez que todas elas passam pela corrente sanguínea. Por sua vez, o gelo reduz a saída de líquido e o inchaço. Bolsas de gelo podem ser colocadas sobre a lesão para diminuir a inflamação durante períodos de aproximadamente 20 minutos, repetindo esse procedimento quatro a oito vezes por dia. A imobilização da articulação afetada também ajuda a reduzir a dor. Isso ocorre porque, se uma área inflamada ainda estiver sujeita a atividade e movimento, a inflamação continuará aumentando, bem como a dor. Por esse motivo, a imobilização da área com ataduras, talas ou moldes permite uma redução mais rápida desses sintomas. Dentro das medidas farmacológicas, há muitos analgésicos que têm propriedades anti-inflamatórias, ou seja, são capazes de aliviar a dor através da redução da inflamação. Os anti-inflamatórios não esteroides são indicados especialmente para o alívio da dor de origem inflamatória.
Outro ponto essencial para o tratamento desse tipo de lesão é a fisioterapia, pois constitui uma ferramenta de tratamento, principalmente durante o período de reabilitação. No caso das entorses de tornozelo, que são as mais frequentes, conforme já mencionado, a reabilitação geralmente é indicada naqueles pacientes que sofreram entorses moderadas a graves, principalmente na presença de instabilidade crônica ou sintomas recorrentes. Isso geralmente é feito sob a supervisão de um profissional, que indicará os exercícios a serem realizados, a sua duração e quando será possível retomar as atividades normais e a prática esportiva. Este último é uma informação muito importante, pois, ao retornar muito cedo, sem o período de recuperação necessário, a articulação poderá sofrer novamente uma lesão. Após o período agudo, as ações, tais como a aplicação de crioterapia ou estimulação muscular elétrica, que aceleram a melhoria de sintomas, como dor e inflamação, serão implementadas. Quando esses cedem, é recomendável exercitar a área lesionada com o objetivo de recuperar toda a amplitude de movimento que a articulação possuía antes do trauma, além da força e da estabilidade. Além disso, os exercícios de reabilitação geralmente são indicados para a realização em ambiente doméstico, com o objetivo de trazer o paciente de volta ao seu nível de atividade anterior.
Prevenção das entorses
As medidas que podem ser tomadas para prevenir entorses incluem: evitar exercícios ou atividades esportivas quando houver cansaço ou dor, realizar atividade física frequentemente, de preferência diariamente, fazer exercícios de aquecimento e alongamento antes de praticar um esporte, utilizar acessórios de proteção durante o jogo, manter um peso adequado, evitar quedas, ter uma dieta equilibrada para manter a musculatura forte, usar tênis confortáveis e trocá-los se o calcanhar estiver desgastado de um lado e correr em superfícies planas.