Gota: é uma das formas mais dolorosas de artrite. Ocorre quando se acumula muito ácido úrico no corpo, fato que gera complicações articulares
A gota é um problema médico comum que afeta com mais frequência homens do que mulheres. Desenvolve-se geralmente na idade adulta, sendo muito comum em pessoas com mais de 65 anos, independentemente do sexo. É uma doença que compromete as articulações e caracteriza-se pelo aparecimento de episódios repentinos de dor, inchaço e vermelhidão de uma ou mais delas. Em geral, apresenta-se em uma articulação por vez, sendo a do dedão do pé a afetada com mais frequência.
Por que ocorre?
A gota é produzida pelo acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações. O ácido úrico é um produto de dejeto normal formado pelo organismo. Em condições normais, circula pelo sangue e é eliminado pela urina, razão pela qual há um nível basal de ácido úrico no sangue que é inofensivo para o organismo. Quando os níveis de ácido úrico circulante aumentam, transtorno denominado hiperuricemia, o excesso desta substância começa a acumular-se formando pequenos cristais semelhantes a agulhas, chamados cristais de urato. Estes se precipitam nas articulações e podem provocar inflamação e uma dor intensa característica da doença.
Os níveis elevados de ácido úrico no sangue podem provir de um excesso na ingestão de alimentos ricos em purinas (substância precursora do ácido úrico), de um aumento na produção endógena ou, ainda, de um transtorno na excreção urinária. Não obstante, é importante considerar que a hiperuricemia nem sempre causa gota, já que existem fatores de predisposição inerentes ao indivíduo que possibilitam a precipitação articular de cristais de urato.
O que é um ataque de gota?
Os ataques de gota são episódios repentinos de dor severa por inflamação das articulações. Embora normalmente seja afetada uma única articulação, há casos em que a inflamação ocorre em várias articulações ao mesmo tempo.
Os fatores que podem desencadear um ataque de gota são vários. A ingestão de bebidas alcoólicas, o consumo excessivo de alimentos ricos em proteínas (mais precisamente, purinas), a administração de determinados fármacos diuréticos, a quimioterapia e as situações de estresse físico, como uma doença grave ou uma intervenção cirúrgica, são alguns dos fatores capazes de precipitar a inflamação articular que caracteriza os episódios de gota.
Quais são as características dos episódios de gota?
Os sintomas da gota aparecem com frequência de forma súbita e violenta, mais comumente em uma única articulação. A pele da área afetada adquire uma coloração avermelhada e torna-se quente, a articulação incha e provoca uma dor intensa, mais ainda ao ser tocada, frequentemente o dedão do pé é o primeiro afetado, e em seguida este transtorno estende-se ao restante das articulações do pé, além de comprometer outras articulações, como tornozelos, joelhos, mãos e punhos.
Os ataques começam com maior frequência durante a noite e nas primeiras horas da manhã, embora possam ocorrer em qualquer momento do dia. A dor e a inflamação geralmente atingem sua intensidade máxima em um prazo de 12 a 24 horas e depois desaparecem completamente em poucos dias/semanas, inclusive sem tratamento.
A Liga Europeia Contra o Reumatismo sugere que a presença de dor de começo brusco (agudo) em uma articulação, que inflama e fica avermelhada, sendo sensível ao tato, e cuja expressão atinge um período de 6 a 12 horas, é muito sugestiva de uma doença articular associada ao acúmulo de cristais, embora não específica de gota.
– Entre 50-70% dos primeiros episódios afetam a primeira articulação metatarsofalângica do dedão do pé.
-Outras regiões frequentemente comprometidas são: joelho, pulso, tornozelo, cotovelo, articulações pequenas da mão.
– A inflamação da articulação atinge seu ponto máximo no prazo de 24 horas, frequentemente com febre e mal-estar.
É possível que não ocorra outro episódio em muitas semanas, inclusive em meses ou anos. Entre um episódio e outro, o indivíduo não apresenta sintomas. Embora a gota seja uma doença eminentemente articular, os cristais de ácido úrico também podem depositar-se sob a pele e originar algumas lesões granulomatosas com formato de bolas fibrosas chamadas “tofos”. Estes são similares à lesão primária observada nas articulações, mas em localização diferente.
Como é realizado o diagnóstico?
Nem sempre é simples diagnosticar esta afecção, já que existem várias doenças diferentes da gota que causam dor articular. Daí a importância de um diagnóstico acertado, uma vez que o tratamento é bastante distinto do encarado em casos de artrite não gotosa.
Como é habitual, o interrogatório e o exame clínico são imprescindíveis. Denomina-se podagra a afecção típica da gota, consistente no comprometimento doloroso inflamatório da articulação metatarsofalângica do dedão do pé, descrita por Hipócrates há mais de dois mil anos. Felizmente este comprometimento articular característico é muito útil para efeitos diagnósticos.
Uma vez que o médico presume que o paciente está afetado de gota, o passo seguinte é determinar seus níveis de ácido úrico no sangue. Se estes estão elevados, com um quadro clínico compatível, o diagnóstico é confirmado. No entanto, é necessário considerar que durante o decorrer de uma crise gotosa, a uricemia pode ser normal ou, inclusive, estar reduzida. Caso o diagnóstico seja duvidoso (e ainda que seja uma prática um pouco cruenta), na crise aguda, pode-se eventualmente puncionar a articulação afetada aspirando líquido sinovial desta, e por meio do microscópio verificar, então, a presença dos cristais de urato.
Em que consiste o tratamento?
O cuidado da gota implica o tratamento da inflamação articular aguda e da urolitíase (presença de cálculo na via urinária), embora o declínio dos níveis de urato constitua um dos principais objetivos na prevenção dos ataques recorrentes da doença, bem como em sua progressão.
O tratamento da gota requer uma série de medidas higiênico-dietéticas e farmacológicas. Em relação às primeiras, é preciso reduzir o peso, já que a obesidade é contraproducente no contexto gotoso. Além disso, é preciso fazer uma dieta especial muito limitada em purinas a fim de evitar o aporte externo de ácido úrico. O álcool é contraindicado. Deve-se insistir em uma ingestão abundante de água – uns três litros diários –, já que isso se converterá em um aumento da diurese com um consequente “arrastamento” de ácido úrico na urina.
Com respeito à administração farmacológica, existem medicamentos utilizáveis na crise aguda e outros voltados ao tratamento crônico da doença, que tentam impedir – ou pelo menos diminuir – a frequência das crises gotosas. O principal objetivo no tratamento do ataque agudo de gota é a resolução rápida e segura da dor e da fraqueza funcional que caracterizam estes episódios.
O emprego de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) associa-se com um alívio sintomático marcado dentro de 24 horas. Os analgésicos opiáceos são usados em grande parte na clínica como adjuntos para aliviar a dor no tratamento precoce da gota aguda. A colchicina é o principal medicamento empregado na podagra; é um fármaco utilizado de forma bem-sucedida para o tratamento da gota desde o século XIX, estando ainda vigente. Nos pacientes afetados por crises gotosas recorrentes, tofos dérmicos, depósitos de cristais de urato monossódico ao redor das articulações ou cálculos renais de urato, deve-se considerar um tratamento crônico com fármacos que diminuam os níveis de ácido úrico no sangue. Entre eles, o mais difundido é o alopurinol, substância que bloqueia a produção de ácido úrico endógeno. A probenecida, por sua vez, aumenta a eliminação renal deste ácido. O médico deverá decidir o tratamento mais adequado para cada paciente. Por último, deve-se ressaltar que, com uma terapêutica correta, a gota é uma doença que na maioria dos casos pode ser controlada.
O que fazer diante de um ataque de gota?
Quanto antes for realizado um tratamento, antes a dor desaparecerá. O médico pode receitar medicamentos para ajudar a deter o inchaço e a dor na articulação. Com tratamento, o ataque de gota deveria desaparecer em alguns dias. Durante um ataque de gota, recomenda-se reduzir a quantidade de proteínas de origem animal (fonte de ácido úrico) e evitar completamente o consumo de álcool. Enquanto durar o episódio agudo de dor, é recomendável permanecer em repouso. Colocar uma compressa de gelo na articulação pode aliviar a dor. Não apoiar a roupa de cama sobre a articulação também pode ajudar. Analgésicos de venda livre, como o ibuprofeno ou o naproxeno, podem ajudar a reduzir a inflamação e aliviar a dor.
O que fazer para evitar os ataques de gota?
O médico pode receitar medicamentos para prevenir futuros ataques de gota. Estes medicamentos podem eliminar o ácido úrico das articulações, reduzir o inchaço e diminuir a quantidade de ácido úrico no corpo. É aconselhável a redução de peso, em caso de sobrepeso. Diante de condições como pressão arterial alta, colesterol alto ou diabetes, devem-se tratar estas afecções e realizar uma dieta baixa em sódio e gordura. Os alimentos com alto teor de purina devem ser evitados, bem como o álcool. Beber muita água e outros líquidos pode ajudar a eliminar o ácido úrico do corpo.