Agência Europeia de Medicamentos aprova primeira terapia gênica, desenvolvida pela BioMarin, para adultos com hemofilia A grave

Agência Europeia de Medicamentos aprova primeira terapia gênica, desenvolvida pela BioMarin, para adultos com hemofilia A grave

Foi mantida a designação de medicamento órfão, destinada a produtos que tratam doenças raras, potencialmente fatais ou cronicamente debilitantes. A designação de medicamento órfão pela EMA indica que há benefícios diferenciados em relação às terapias existentes para pacientes com hemofilia A grave.

Estima-se que mais de 20.000 adultos tenham hemofilia A grave em toda a Europa, Oriente Médio e África

O Brasil tem a quarta maior população de pacientes com hemofilia do mundo. Estima-se cerca de 11 mil pessoas com hemofilia A, sendo 3600 adultos com a forma grave da doença,[1],[2]

Esta terapia não está aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

A BioMarin anunciou que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concedeu a autorização de comercialização condicional (CMA) à terapia gênica valoctocogeno roxaparvoveque para o tratamento de hemofilia A grave em pacientes adultos sem histórico de inibidores de Fator VIII e sem anticorpos detectáveis ao sorotipo do vírus adeno-associado 5 (AAV5). É a primeira terapia gênica aprovada para hemofilia A que, através de uma infusão única, entrega um gene funcional projetado para permitir que o corpo produza o Fator VIII por conta própria, sem que haja necessidade de profilaxia contínua, o que alivia a carga de tratamento à qual os pacientes estão hoje submetidos.

Pessoas com hemofilia A têm uma mutação ou irregularidade no gene responsável pela produção do Fator VIII, proteína necessária para a coagulação sanguínea[3]. Estima-se que mais de 20.000 adultos em toda a Europa, Oriente Médio e África sejam afetados pela forma grave da doença.

“A aprovação na Europa representa um avanço no tratamento de pacientes com hemofilia A grave, ampliando a conversa entre médico e paciente sobre as escolhas de tratamento, que agora inclui uma única infusão”, disse o professor Johannes Oldenburg, diretor do Instituto de Hematologia Experimental e Medicina de Transfusão do Centro de Hemofilia da Clínica Universitária em Bonn, na Alemanha. “É emocionante imaginar as possibilidades dessa terapia gênica aprovada, que demonstrou uma redução substancial e sustentada da quantidade de sangramentos em pacientes que potencialmente podem ficar livres de uma vida inteira de infusões frequentes.”

Apesar de ainda não haver submissão do medicamento para avaliação e aprovação por parte da Autoridade Sanitária do Brasil, a autorização da EMA representa uma esperança para os pacientes brasileiros com hemofilia A com o perfil adequado para a terapia gênica. “Esse tratamento desponta como uma alternativa realmente transformadora para pacientes com hemofilia A grave”, afirma a Dra. Margareth Ozelo, diretora da Divisão de Hematologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM UNICAMP).

A especialista coordena diversos projetos de pesquisa, com ênfase em hematologia, incluindo o estudo global GENEr8-1 desta nova terapia gênica, com 134 pacientes com hemofilia A grave, submetidos a uma dose única de valoctocogeno roxaparvoveque. “A ocorrência de episódios hemorrágicos durante a profilaxia representa um grande fardo dessa doença, tratando-se de uma necessidade médica ainda não atendida para muitas pessoas. Os resultados do estudo clínico com valoctocogeno roxaparvoveque são encorajadores, considerando que durante o primeiro ano de tratamento 90% dos participantes do estudo tiveram zero sangramentos com necessidade de tratamento ou menos sangramentos com necessidade de tratamento pós-infusão de uma única dose de terapia gênica do que com fator VIII como profilaxia. Estes resultados refletem o potencial de controle hemostático sustentado com esta terapia gênica para hemofilia A”, completa a investigadora.

“O valoctocogeno roxaparvoveque representa um marco histórico na medicina, construído em quase quatro décadas de descobertas científicas, inovação e perseverança. Agradecemos à EMA por reconhecer seu valor como a primeira terapia gênica para hemofilia A; um feito que, acreditamos, transformará a forma como a indústria e a comunidade de pacientes pensam em cuidar de distúrbios hemorrágicos”, disse Jean-Jacques Bienaimé, presidente e diretor executivo da BioMarin. “Somos gratos aos pacientes, investigadores e comunidade que dedicaram seu tempo e esforço e forneceram a força motriz para tornar realidade esta terapia única.”

A EMA baseou sua decisão na totalidade dos dados do programa de desenvolvimento clínico de valoctocogeno roxaparvoveque, a terapia gênica mais estudada para hemofilia A, incluindo desfechos de dois anos do estudo global[4] de Fase 3, apoiado por cinco e quatro anos de acompanhamento das coortes de dose 6e13 vg/kg e 4e13 vg/kg, respectivamente, do estudo de escalonamento de dose de Fase 1/2 em andamento[5]. A BioMarin comprometeu-se a continuar trabalhando para monitorar os efeitos do tratamento a longo prazo.

A Agência Europeia de Medicamentos reconhece que o benefício à saúde pública da disponibilidade imediata no mercado supera as incertezas inerentes ao fato de que a ciência ainda é nova, como é o caso de qualquer terapia gênica, e o fato de que dados adicionais ainda são necessários. A BioMarin fornecerá mais dados de estudos em andamento dentro de cronogramas definidos para confirmar que os benefícios continuam a superar os riscos, baseando-se no que já constitui o maior pacote de dados clínicos para terapia gênica em hemofilia A. A conversão a uma autorização de comercialização definitiva (equivalente ao registro da Anvisa), dependerá do fornecimento de dados adicionais dos atuais estudos clínicos, incluindo o acompanhamento a longo prazo de pacientes inscritos no estudo pivotal GENEr8-1, bem como um estudo de corticosteroide profilático, para os quais o recrutamento já está encerrado.

Valoctocogeno roxaparvoveque mantém a designação de droga órfã, reservada para medicamentos que tratam doenças raras que ameaçam a vida ou que são cronicamente debilitantes (se considera que não afetem mais de 10 mil pessoas na União Europeia). Os medicamentos órfãos autorizados, uma vez aprovados, beneficiam-se de dez anos de proteção contra a concorrência de medicamentos similares em indicações semelhantes.

1Link acesso em 19/08/2022
2Link acesso em 19/08/2022
3Ozelo et al. N Engl J Med. 2022;386(11):1013-1025.
4Link acesso em 19/08/2022
5 Pasi KJ et al Haemophilia. 2021;27(6) :947- 956
6 Nathwani AC. Gene therapy for hemophilia. Hematology Am Soc Hematol Educ Program. 2019 ;2019(1):1-8.

Fonte: Biomarin