Envelhecimento ou fotoenvelhecimento?
No fotoenvelhecimento, as radiações ultravioletas têm um papel preponderante no desenvolvimento de alterações cutâneas similares ao envelhecimento, mas com diferenças que vale a pena conhecer
O aumento da expectativa de vida trouxe consigo a possibilidade de reconhecer um processo ignorado por nossos antepassados: o envelhecimento cutâneo. A exposição aos raios solares, muito comentado nos tempos atuais, permitiu a identificação de outro processo, o fotoenvelhecimento. Ambos, embora parecidos em alguns pontos, são diferentes; enquanto o primeiro corresponde a um processo normal, comum a todas as células do organismo, o segundo é o resultado do dano actínico (dano produzido pelas radiações eletromagnéticas emitidas pelo sol) ao longo do tempo.
Para os antigos romanos, viver até os vinte anos era uma grande conquista. Mudanças sociais progressivas, como a valorização da higiene, o cuidado pessoal, o avanço científico e o desenvolvimento da medicina como a arte de curar e promover a saúde, permitiram ampliar esta expectativa. Atualmente, a expectativa média de vida aumentou graças ao desenvolvimento de novas tecnologias, que facilitam o diagnóstico precoce de muitas doenças, e ao auge da medicina preventiva.
O maior número de pessoas chegando a idades mais avançadas permitiu reconhecer muitas doenças; na dermatologia, como em outras especialidades médicas, puderam ser reconhecidos os processos que um órgão atravessa com o passar dos anos. O envelhecimento cutâneo é um conceito relativamente novo que chama a atenção dos pesquisadores. A pele, por sua localização estratégica, permite a observação detalhada do que acontece à medida que o tempo passa.
A exposição às radiações ultravioleta leva a alterações cutâneas que em muitos aspectos aproximam-se do processo de envelhecimento. Diferentemente do envelhecimento cronológico, o fotoenvelhecimento deve-se a fatores externos que danificam as estruturas cutâneas, as desorganizam e deterioram prematuramente, assemelhando-se às vezes à aparência da pele envelhecida. Os processos subjacentes são totalmente diferentes daqueles que surgem com o envelhecimento normal, e sua compreensão permite encarar as medidas que tendem a evitá-los a partir da prevenção ou do tratamento precoce.
Envelhecimento: um caminho inevitável
Em biologia, entende-se por envelhecimento a somatória de mudanças inevitáveis e irreversíveis sofridas por um organismo com o passar do tempo e que – eventualmente – resultam em sua morte. Trata-se da deterioração intrínseca, progressiva e tempo-dependente da estrutura ou função de um organismo.
Várias teorias buscam explicar este processo. A teoria do erro genético postula que as falhas celulares que levam ao envelhecimento resultariam do acúmulo de dano sobre o material genético ou de pequenos erros no fluxo da informação genética. Esses fatores levariam a alterações da função das células que culminariam em sua destruição. O efeito Hayflick, que deve seu nome às pesquisas deste microbiólogo norte-americano, postula que o envelhecimento está programado dentro das células. Seus estudos mostraram que as células humanas são capazes de multiplicar-se um determinado número de vezes e não mais. A teoria da deterioração imunológica, sustentada pelos imunologistas, postula que este sistema, normalmente encarregado de proteger o organismo contra os agentes estranhos, sofre alterações que com o tempo impedem que esta função seja cumprida corretamente. A impossibilidade de distinguir entre o próprio e o alheio levaria à formação de autoanticorpos direcionados contra as estruturas do próprio organismo, levando à sua progressiva destruição. No campo da biologia molecular, a teoria dos radicais livres está bastante em voga já há alguns anos. Esta teoria pressupõe que a formação de algumas substâncias chamadas radicais livres é mais frequente em organismos que envelhecem. Estas substâncias são produzidas normalmente no interior das células por conta de seu metabolismo. São compostos altamente reagentes, e sua produção progressiva e acúmulo causariam alterações nas células e nos tecidos. Os radicais livres seriam responsáveis por uma série de processos complexos.
A somatória de todos eles leva à disfunção e morte celular, possivelmente relacionada ao envelhecimento. Por último, a teoria genética da telomerase postula que o encurtamento dos cromossomos (parte da célula que contém informação genética) por perda de telômeros (extremidade livre dos cromossomos), com o passar do tempo, acarreta uma menor capacidade de replicação das células. A telomerase, enzima que permite a re-extensão dos telômeros, encontra-se muito ativa nas células germinativas (células-mãe), e sua atividade diminui com o passar dos anos; o encurtamento telomérico seria outra forma de explicar o envelhecimento.
As manifestações cutâneas do processo de envelhecimento
A idade em que as alterações causadas pelo envelhecimento manifestam-se é variável. Com respeito ao envelhecimento cronológico, as alterações cutâneas mais importantes vistas por meio de microscópio óptico são o desaparecimento ou diminuição dos dedilhamentos que normalmente unem a epiderme à derme, fato que favorece o aparecimento de bolhas em idosos. Os queratinócitos (principais células da epiderme, camada superficial da pele) mostram alterações morfológicas, com aumento de sua superfície e diminuição de sua altura; a desaceleração da reposição epidérmica e a perda de coesão entre os corneócitos (células da camada córnea) permitem a visualização de células superficiais de tamanho maior que as apresentadas em peles mais jovens. A heterogeneidade dos queratinócitos das camadas mais profundas da epiderme dos idosos é, talvez, a base da maior propensão ao câncer cutâneo, enquanto a clara diminuição dos melanócitos e células de Langerhans contribuiriam também para o aparecimento de tumores.
A derme da pele envelhecida mostra claros sinais de atrofia; as células estão praticamente ausentes, bem como os vasos sanguíneos. A derme transforma-se assim em um tecido praticamente sem células cutâneas e vasos sanguíneos, no qual fibroblastos e mastócitos, tão abundantes em indivíduos jovens, quase não existem. Com respeito às fibras, o colágeno (fibras que outorgam a firmeza à pele) diminui aproximadamente 1% ao ano durante a idade adulta, enquanto as fibras colágenas remanescentes tornam-se mais grossas e desordenadas. A rede de fibras elásticas sofre mudanças consideráveis com o envelhecimento cronológico; como se atravessassem um processo de degradação progressivo durante o qual se mostram desordenadas.
As glândulas cutâneas também sofrem com a passagem dos anos. As glândulas sudoríparas diminuem em número e na secreção que produzem. Os folículos pilosos da pele envelhecida mostram uma redução modesta de seu tamanho. A perda de sensibilidade da pele dos idosos deve-se à perda de corpúsculos sensitivos.
Todas essas alterações têm seu correlato clínico representado pela perda das diferentes funções cumpridas por cada estrutura modificada pela idade.
Envelhecimento extrínseco: radiação ultravioleta e efeitos sobre a pele
A exposição habitual à luz ultravioleta é – de longe – o fator ambiental de maior implicância no envelhecimento cutâneo prematuro ou fotoenvelhecimento.
Ainda que as mudanças induzidas pela exposição prolongada às radiações solares geralmente manifestem-se à medida que o indivíduo envelhece, nada têm a ver com o processo normal de envelhecimento. O sol, ao longo dos anos, tem a capacidade de induzir alterações sobre as células e fibras que compõem todas as camadas da pele.
Clinicamente, o fotoenvelhecimento pode manifestar-se pelo aparecimento de rugas, pele áspera e seca, pigmentação irregular, telangiectasia, palidez e pintas marrons. Outras alterações cutâneas associadas à idade incluem a ceratose seborreica e a ceratose actínica, lesão fortemente associada a um aumento do risco de desenvolvimento de um tumor de pele denominado carcinoma escamocelular. Isso implica que aquelas pessoas com fotoenvelhecimento considerável devem ser examinadas periodicamente para prevenir o aparecimento de lesões pré-neoplásicas (lesão que antecede o surgimento de um tumor), como a ceratose actínica, ou de tumores de pele. A exposição acumulativa à luz solar e a exposição nos últimos 10 anos estão fortemente associadas ao risco de desenvolver ceratose actínica e, consequentemente, câncer de pele escamocelular em pessoas de qualquer idade. Os fatores de risco para o fotoenvelhecimento e o câncer de pele incluem pele clara (branca), dificuldade para o bronzeamento, facilidade para as queimaduras solares, queimaduras de sol antes dos 20 anos e idade avançada. O cigarro é um fator de risco independente para as rugas, as telangiectasias e o carcinoma escamocelular.
Uma tentativa de explicar as alterações cutâneas do fotoenvelhecimento
As rugas cutâneas do fotoenvelhecimento parecem resultar das alterações das fibras da derme. Fisher e colaboradores tentaram explicar os mecanismos moleculares envolvidos nas mudanças degenerativas da pele fotoenvelhecida.
Pesquisas anteriores sobre os efeitos da radiação ultravioleta demonstraram que a irradiação de células em cultivo com doses muito abaixo da letal ativava mecanismos de resposta aos raios UV, que, partindo de receptores sobre a superfície celular, determinava a ativação de fatores de transcrição específicos. Fibroblastos, queratinócitos e melanócitos irradiados com radiação ultravioleta B aumentavam a expressão de determinadas proteínas associadas à detenção do ciclo celular e à morte celular.
O fotoenvelhecimento, segundo estes estudos, seria causado pela degradação lenta das proteínas da derme em resposta à exposição crônica à luz solar, resultando na formação de rugas.
Ainda há muito a avançar no campo da biologia molecular; a pele proporciona uma rara oportunidade de estudar as diferenças entre o envelhecimento normal e o induzido por fatores ambientais. Enquanto não se chega a uma completa compreensão dos mecanismos de fotodano, a educação acerca da ação das radiações ultravioleta sobre a pele e a prevenção por meio de filtros solares continuam sendo ferramentas muito valiosas.
Prevenção do fotoenvelhecimento
A proteção do sol em qualquer idade reduz o aparecimento de lesões como a ceratose actínica e o carcinoma escamocelular e, de outro lado, a progressão do fotoenvelhecimento.
As estratégias para uma boa proteção incluem empregar chapéus e outras peças de vestuário e evitar a exposição solar em determinados horários. Além disso, muitos filtros solares que bloqueiam as radiações ultravioletas estão disponíveis. O número do fator de proteção solar está relacionado à dose de radiação ultravioleta (predominantemente radiação UVB), que resulta em eritema (queimadura solar), e à porcentagem de proteção oferecida diante desta. Um fator de proteção solar 2 é igual a 50% de proteção, um fator de proteção 15 é igual a 93% de proteção e um fator de proteção 45 é igual a 98% de proteção.
A aplicação diária dos protetores solares é essencial para obter uma boa proteção. A sudoração e a natação requerem, na maioria dos casos, a reaplicação do protetor solar.