Colesterol elevado

Colesterol

Colesterol elevado

O aumento de seus níveis no sangue não causa em si mesmo nenhum sintoma, mas aumenta o risco de problemas graves para a saúde.

A nutrição e as gorduras da dieta

Assim como uma máquina precisa de energia para seu funcionamento adequado, os seres vivos também requerem um suporte contínuo e adequado de “combustível”, ou seja, alimentos para o sustento da vida e a realização das numerosas atividades em que estão envolvidos. Os organismos simples, tais como uma ameba ou uma bactéria, tomam nutrientes de seu ambiente por absorção. No entanto, os organismos altamente desenvolvidos têm um sistema especializado de recepção dos alimentos, processamento dos mesmos e eliminação de descarte não utilizáveis, coletivamente chamado de “sistema digestivo”.

Quando os nutrientes entram pela boca, iniciam um percurso altamente especializado pelas diferentes porções do tubo digestivo, setor principal do referido sistema.

Os lipídeos ou as gorduras são substâncias cuja função primária é a reserva energética. Se os requerimentos de energia são maiores à ingestão de açúcares, o corpo faz uso das gorduras corporais (portanto é por isso que tanto a ginástica quanto as dietas sem açúcar emagrecem pacientes obesos). As gorduras estão representadas principalmente pelos triglicerídeos e, é claro, pelo famoso colesterol. Ambos os termos são bastante comuns nas análises laboratoriais de rotina, pela sua relevância clínica ao serem encontrados com valores aumentados. Sabe-se que comer gorduras em excesso é prejudicial para o organismo, já que estas não só produzirão ganho de peso, como também a sua presença contínua e excessiva na corrente sanguínea causará com o tempo numerosos distúrbios cardiovasculares e cerebrais. No entanto, uma ingestão adequada não só é inofensiva, como também é necessária para o correto funcionamento do corpo.

Os lipídeos dietéticos incluem principalmente os triglicerídeos e o colesterol. Os primeiros consistem em uma molécula de glicerina na qual três cadeias de ácidos graxos estão ligadas (formando uma espécie de letra E). Estas substâncias são fracionadas por enzimas lipases presentes novamente tanto na saliva quanto no suco pancreático, embora esta última lipase (pancreática) seja de muito mais importância que a primeira. No duodeno, a bílis age anteriormente sobre os triglicerídeos como um verdadeiro detergente doméstico dissolvendo estas gorduras em pequenas gotinhas, pois de outro modo a lipase pancreática não consegue agir de forma eficaz. Desta forma, os triglicerídeos ficam fracionados em glicerina e ácidos graxos, e o epitélio intestinal pode absorvê-los. Uma vez na célula intestinal, estas substâncias são compactadas novamente, muitas vezes junto com o colesterol, e com a agregação de proteínas que facilitam sua solubilidade no sangue (já que as gorduras puras são insolúveis nele). Assim são formados os chamados quilomícrons, que viajarão pela corrente sanguínea primeiro até o fígado e, em seguida, seus vários destinos (células, tecido adiposo abdominal ou os mesmos vasos sanguíneos se houve sobrecarga dietética, formando as perigosas placas ateromatosas).

Em quanto ao colesterol, é uma substância encontrada em gorduras de origem animal, porém também é produzida pelo próprio fígado. É a molécula base para uma série de hormônios produzidos em condições normais, mas muito prejudicial quando encontrada em quantidades elevadas e em forma crônica. Níveis adequados de colesterol no sangue são normais, e de fato úteis para os inúmeros processos biológicos nos quais esta substância intervém (síntese de hormônios, estabilidade das membranas celulares). Mas, como é bem conhecido, o excesso de colesterol produz inúmeras alterações no organismo. Acima dos 50 anos de idade, calcula-se que 6 de cada 1.000 indivíduos desenvolvem doença aterosclerótica por hipercolesterolemia.

Além disso, das transgressões alimentares, existem fatores genéticos que predispõem a uma elevação anormal do colesterol no sangue e, perante o interrogatório médico, muitas vezes são detectados vários familiares do paciente que sofreram as consequências da doença aterosclerótica (infartos, demência). Por outro lado, existe um pequeno grupo de pacientes que apresentam, mesmo em uma idade precoce, níveis anormalmente altos de colesterol, e o interrogatório sempre acha familiares com histórico de condições precoces semelhantes (alguns que morreram em idade jovem). Trata-se das chamadas “hipercolesterolemias familiares”, das quais vários tipos foram descritos. São doenças preocupantes, nas quais o médico deve utilizar todas as terapias dietéticas e medicamentosas necessárias com o fim de fornecer um padrão adequado de vida ao paciente, e para poder prevenir graves doenças com o passar do tempo.

O colesterol dietético está presente em certos alimentos que, certamente, são prejudiciais naquelas pessoas com hipercolesterolemia. Em primeiro lugar, as carnes vermelhas e especialmente os fígados são ricos nesta gordura, bem como os produtos lácteos preparados com leite integral. A gema de ovo está literalmente repleta de colesterol: tem 70% da ingestão diária recomendada, que é de 300 mg. Existe um problema adicional na ingestão de certos tipos de triglicerídeos: as denominadas gorduras saturadas (em referência a um tipo de conformação química) aumentam o nível de colesterol no sangue e, de fato, são mais prejudiciais do que ingerir colesterol puro. Os produtos comerciais assados, os alimentos processados e os óleos de amendoim e coco são ricos nestas gorduras. Pelo contrário, as gorduras insaturadas (por exemplo, os triglicerídeos presentes no óleo de girassol, milho e soja) são inócuos e, de fato, exercem um efeito benéfico já que diminuem o colesterol no sangue. Os consumidores com problemas de hipercolesterolemia devem estar atentos e ler as etiquetas dos produtos que compram para ver sua composição de gordura, embora nem todos os alimentos comerciais os trazem, pois isto depende da legislação vigente em cada país.

Os riscos do colesterol elevado

A preocupação e o interesse do público em geral para manter o colesterol sob controle fez com que algumas importantes empresas de laticínios decidam usar produtos que diminuíssem o colesterol em seus leites. Os dois mais conhecidos são o ômega-3 e os fitoesteróis. O primeiro é uma gordura insaturada de origem marinha, enquanto que o segundo são gorduras de origem vegetal. A ingestão continuada de ambos produz uma ligeira diminuição de aproximadamente 10% dos níveis sanguíneos do colesterol, o que é insuficiente como “tratamento”, mas útil como medida adicional.

Dois termos são comuns referindo-se ao colesterol: existe uma versão “boa” e outra “ruim”. O colesterol bom é conhecido clinicamente com a sigla HDL (em referência à densidade da partícula lipoproteica que transporta o colesterol no sangue), e observa-se que elimina o colesterol da corrente sanguínea. Pelo contrário, o colesterol ruim, ou LDL, é aquele que produz depósitos de colesterol nas artérias, originando as famosas placas gordurosas ateromatosas da aterosclerose. É comum solicitar aos pacientes um teste de colesterol total e fracionado, já que um aumento da fração LDL é preocupante, mesmo se existem valores normais de colesterol total. Se ambos os valores estão aumentados, o problema é maior. E se a fração HDL está acima de certo valor, sabe-se que haverá certa proteção contra o risco aterogênico. E quais são os valores normais de colesterol no sangue? Para esta substância, não foi determinado só um valor, senão dois valores limites que correspondem a um nível máximo de 240 mg/dL a partir do qual há hipercolesterolemia, e outro valor inferior de 200 mg/dL, que é o valor limite “desejável” para evitar distúrbios futuros. Portanto, o intervalo entre os 200 e 240 mg/dl é uma “área cinzenta”, em que o médico deve estar alerta, conversar com o paciente e propor uma terapia escalonada que irá desde simples medidas dietéticas até o tratamento medicamentoso, se necessário.

As doenças mais conhecidas que gera o colesterol elevado são encontradas principalmente no nível dos vasos sanguíneos. Assim como acontece no encanamento de uma casa, que de vez em quando entope de gordura dos alimentos e que escorre pelo ralo, o colesterol – que em forma anormal está em grandes quantidades no sangue – vai sendo depositado na superfície interna dos vasos sanguíneos de forma lenta e contínua. Quando estes são de alto calibre, as placas gorduras não causariam maiores distúrbios, mas é em pequenos vasos onde estes depósitos conseguem estreitar e ainda impedir o fluxo sanguíneo. Ao ser interrompido, as células que dependem do vaso alterado morrem por inanição, já que não recebem alimento e oxigênio.

O caso típico é a aterosclerose das artérias coronárias do coração, com pequenos vasos que percorrem sua superfície e irrigam o músculo cardíaco. Quando ocorre a obstrução de uma ou mais delas, há a morte de um grupo de células cardíacas contráteis, as quais já não poderão ajudar na contração cardíaca e, pelo contrário, com o tempo são fibrosadas formando uma cicatriz inútil. Isto é o que é conhecido como infarto do coração.
Outro problema adicional pode ocorrer com as placas ateromatosas localizadas nos grandes vasos sanguíneos como a aorta, que é a artéria de maior calibre do corpo. O fato é que estas placas podem ocasionalmente ser fragmentadas e, então, pequenas bolas de gordura ou êmbolos percorrem rapidamente pela corrente sanguínea até chegar aos vasos de menor calibre, onde os entopem por não poder avançar mais, produzindo lesões semelhantes às descritas no coração ou outros órgãos.

A circulação das pernas também pode ser afetada pela aterosclerose, provocando cansaço ao caminhar até mesmo algumas quadras, dificuldade para subir escadas, cãibras frequentes. Em casos avançados, a doença pode causar uma interrupção circulatória que, às vezes, leva a gangrena e até a amputação.

O cérebro é um órgão com uma microcirculação delicada que também pode ser lugar de lesões deste tipo, produzindo o chamado infarto cerebral com as terríveis consequências associadas (paralisia, deficiência intelectual, dificuldades de fala). A lesão mais comum no cérebro é a doença aterosclerótica crônica, na qual os vasos são ocluídos de forma lenta e gradual, produzindo frequentemente quadros de demenciais senis que são progressivos e irreversíveis. Além disso, os rins às vezes são afetados pela aterosclerose, embora a condição renal aguda produzida por um êmbolo gorduroso liberado de uma grande placa ateromatosa seja mais frequente.

Existem fatores que colaboram prejudicialmente no desenvolvimento da aterosclerose em pacientes com colesterol elevado. O diabetes mellitus, a hipertensão, a obesidade, o álcool e o tabaco são causas que favorecem o aparecimento desta doença.

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